terça-feira, maio 17, 2005

Eduardo, o sanguinolento (Parte II)

...Tudo planejado e arquitetado nos detalhes mais mínimos. A rua estava escura àquela hora. Nove e trinta e dois minutos da noite. Passos calmos são ouvidos no fim da rua, um a um, um pé depois o outro. A fragilidade ouvia Frank Zappa em seu cd player e batucava sobre a pistola, guardada no bolso, o ritmo do jazz. Era Leonard, O Macabro, indivíduo da pior espécie, gostava de recitar aforismas nietzscheanos antes da execução de suas vítimas. Capanga contratado para fazer o serviço sujo e comandar os assaltos da madrugada às casas dos devedores da Sociedade. Cinco passos o separam da morte agora. E agora três passos apenas. Uma rajada de metralhadora é ouvida no silêncio do subúrbio curitibano e o corpo de mais um comparsa é destroçado pelas balas. Pneus de carro cantam enquanto uma voz desafinada grita através da janela do veículo: "Getting nowhere fast!"

Enquanto o sinal não abria, Eduardo aguardava com as mãos tensas no volante. A grande hora estava por chegar, seu grande desafeto em poucos minutos sairia do motel com sua BMW e sua amante de olhos verdes. Era Martin Ilenidlavski, chefe da ramificação da máfia casaquistaniana no Brasil. Contrabandista, estelionatário, assassino, mão-leve. Roubava até doce de mão de criança somente por prazer. Diziam que matava às vezes só para ver o quanto de poeira subia do chão quando o corpo caía. Concorrente mais ferrenho às ações da Sociedade. Já eram históricas os tiroteios entre as duas gangues na Avenida Cândido de Abreu e XV de Novembro, que sempre resultavam em dezenas de mortos. Mas nos últimos meses ambos os lados concordaram em fazer as pazes ainda que em nome dos negócios. E Martin Ilenidlavski e Eduardo Naka podiam ser vistos deliberando sobre as ações de ambas as organizações no Largo da Ordem, juntamente a Johnatanus Zancanarius, o Schwarzmann, entre um gole e outro do vinho mais caro. Agora o sinal já estava por abrir. Duas esquinas à direita e a esquerda e seu carro se emparelhou ao de Ilenidlavski que já havia saído do motel depois de horas lá dentro. Os pneus dos dois carros cantaram e numa manobra arriscada Ilenidlavski saiu do campo de visão de Eduardo e iniciou os disparos. A primeira rajada atingiu os pneus traseiros do Tempra de Eduardo e o carro capotou 12 vezes. Inexplicavelmente o meliante saiu ileso. Pôs seu óculos escuros, tirou uma pistola sobressalente do casaco e disparou 12 vezes também, uma para cada capotada, sobre o carro de Ilenidlavski. Ao atingir o tanque, um dos projéteis detonou o carro pelos ares. Testemunhas dizem ter visto logo após o ocorrido, um rapaz alto forte e musculoso, vestido com uma camiseta preta com letras gragas nas costas e uma mulher de olhos verdes pegarem um táxi nas proximidades do enfrentamento. O taxista os levou ao aerorporto de onde pegaram um vôo com rumo desconhecido. Na caixa de email de Eduardo Naka, no dia seguinte, havia uma mensagem sem título onde estava escrito em russo: "Eu voltarei.

Agora, com a noite já passada e os prmeiros raios de sol, o assassino, preocupado com o futuro e com seu inimigo à solta, caminhava pela Erasto Gaertner com seus tênis negros enquanto dizia para si o quanto havia sido difícil aquela noite.