domingo, setembro 04, 2005

Pam no mundo insano dos amores que dão certo!


Por sobre as nuvens havia sol, mas abaixo delas as pessoas viviam absortas e graves. O sol não iluminava a terra e os homens e mulheres andavam com um olhar estranho. Estranho, como de quem tem algo a esconder. Pam não olhava as pessoas e caminhava absorta também pelo calçadão após um dia intenso. As imagens não se digladiavam nos olhos como antes, compunham agora formas harmônicas entre si. A expressão séria das pessoas não afetava esse sentimento de leve consentimento ao destino. Ah o destino! Fora-lhe rígido com espinhos nos passos e nas mãos. O passado dera-lhe, ao lhe retirar, a força necessária pro presente. E repetia pra si mesma: “ eu te rodeio de pétalas ruivas...”; versos que um certo rapaz lhe fizera e que agora fazia que o coração despejasse sentimentos leves e deliciosidades humanas sobre a alma.

Subiu ao ônibus como se os degraus fossem de uma escadaria de nuvens que levasse a céu cor-de-esmeralda numa manhã de domigo, alguns minutos passaram como se a paisagem de prédios de subúrbio e automóveis rápidos fossem o Éden, desceu em seu ponto habitual e cruzou a rua, entrou em sua casa e deitou-se em sua cama de lençóis brancos com detalhes alaranjados, como se esta fosse um altar de bons sentimentos, e viajou com a insanidade dos amantes ao mundo dos amores que dão certo. Os problemas cotidianos curvavam-se e desapareciam nos olhos fechados, na ludicidade de sonhar-se acordada. Esteve ali por um longo tempo, de vários minutos, os postes da rua já estavam acesos, e deixou um blues ressoar pelo quarto enquanto se alimentava de emoções. Nada mais de casos impossíveis, distâncias absurdas, abismos de separação, lembranças e lembranças na memória cansada... Tudo deixado de lado por uma ordem imperiosa da emoção leve que sentia. O passado tornara-se inconveniente. Não há passado. E o coração abriu-se em pétalas em flor. Inebriada com sua imaginação olhava ao lado com olhar de admiração nos olhos fechados como se lá estivesse o rosto que desejasse ver. O quarto de janelas fechadas, mas uma brisa corria pelo seu corpo.
O tempo rodava devagar pelo relógio, ainda que lá fora voasse. De olhos fechados e respiração vagarosa de quem dorme viu um buquê de margaridas brancas, logo uma planície das mesmas flores e estrelas brancas no céu azul. Paz e calma nas pétalas. Nas pétalas brancas... Nas pétalas... TRIIIMMMMM! O telefone! O telefone! Ah tenho que atender! Hmm... tão longe das mãos, justo enquanto sonhava tão tranqüila!
__Alô!
__Oi, oi! Sou eu... __ num sobressalto do coração Pam respirou rapidamente quase assustada __ Liguei por que queria saber se... bem... Se não quer sair hoje à noite... comigo?
Contendo o riso, cheio de contentamento e lisonjeada que estava, respondeu com voz melodiosa:
__Bem... Onde você quer ir?
__A qualquer lugar... se eu tiver sua companhia!
E o universo teve sentido nesse momento, e as tempestades se acalmaram e toda fúria e violência dos furacões agora modificaram-se em calma e fluidez!
E o conto acabou__ numa esquina entre dois corações!
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Pós-escrito:
No outro dia, por entre as nuvens e o mar e o sol, um som sibilante de turbinas desceu sobre o Santos Dumont.
__Mais um daqueles jumbos vindos de Curitiba!... Disse o fiscal estupefato.
__Pois é!
__Para o mesmo endereço?
__O mesmo... São João do Meriti!
__Mas como pode caber tanta flor numa casa só?!
__Eu li o cartão, lá está escrito: “a serem guardadas na alma pura de um lírio!”

... e finalmente: fim...