domingo, setembro 25, 2005

Carta a mim mesmo

“as my memory rests
but never forgets what I lost
wake me up when september ends”


Colombo, algum dia de setembro desse ano.


Prezado Senhor Eu-mesmo: Olá...
Nenhuma novidade no front da batalha de nossas vidas.

Todas as sortes e inssucessos, já te passam à mente, pela memória
antes que eu venha e, de olhos sinceros, lhe conte.

Agora está você aqui sentado frente a esta tela branca,
subjugado por uma horda de pixels que lhe invadem os olhos.
Nós dois nos olhamos nos olhos irresistíveis e resistimos a nós mesmos.
O espelho mente, mas mente tão bem que acreditamos nele, ingênuos e crentes.
Nesse quarto que há o pouco de nós que o mundo abriga,
reside a vontade geral.
Todos o querem agora, inconsientemente: gênio, gentleman e conquistador.
Todos o querem estupendo e virtuoso,
e não lhe permitem essa inadequação que lhe trava a fala,
essa personalidade que lhe oblitera e a divindade que lhe subjuga e domina.

Ó Bem aventurados somos nós! Eu e você, olhando essa tela branca,
Que temos ao outro para maldizer.
Mas malogrados somos nós... que só temos a isso,
e esse pouco de imaginação que nos droga e liberta...
para um cárcere vazio.

Não provocou seu suicídio ou nenhum genocídio,
nenhuma heresia conhecida ou milgare digno de canonização,
e essa turba que lhe tira a respiração e o sono, em busca de alimento ou justiça.

Nada além
de muito mais que
esperar os dias alegres.

O caminho segue e as pedras te confabulam o passado e a memória das chuvas passadas.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Narrativa tola sobre dois vadios em fuga

Como eles estavam presos perpetuamente – de uma perpetuidade de não se acabar mais -- numa cela muito escura de nenhuma luz, não lhes restavam mais que papear naqueles assuntos de perder-se de vista sobre as coisas da vida e a vida das coisas. Mas havia um plano de fuga para hoje e a conversa trazia um tom de preocupação por debaixo das falas. A fortaleza era alta e de pedras e tinha guardas e tinha o fosso e uma floresta de demônios e assombrações no arredor. Enquanto os guardas trocavam-se nas posições-de-guarda o Amigo Imaginário de Tristão abriu com a chave da sobrenaturalidade os cadeados das mãos, dos pés e da porta e com uma sonora trambolhada com um penico de aço fundido na cabeça elmada do guarda cagão e sonolento desabriram a correr e meia hora depois, após fugirem de guardas com lanças espetudas, por labirintos de calabouços, escadas tortuosas e tortas, a sala de jantar do castelo __ durante o jantar, onde curvaram-se respeitosamente ao Rei e uma leve mesura à Princesa tímida __ e de flechas pela ponte levadiça, atingiram a Floresta dos Perigos Incontáveis. Dormiram dois dias numa caverninha para recuperarem-se do cansaço. Seguiram até a taverna de Rosamunde e beberam ao anoitecer três garrafões ao Rei e outro à Princesa com um brinde aos seus olhos de um azul-incomensurável. Da entorpecência do vinho brotou-lhes a inconsciência de estarem sendo roubados. Umas moedas de prata suadamente furtadas passavam novamente de mãos. Surrupiados até às roupas, no frio nevoado e cinzento daquela noite foram expulsos, Tristão e seu Amigo Imaginário, destinados a vagar até o fim da Floresta a maldizer e a tremer. Ao amanhecer daquela noite insone e friorenta deram com a ossada de um homem, que provavelmente havia morrido chorando __ pela expressão do rosto __ , entre um trambolho de metal onde estava escrito em uma língua estranha: “Timevoyager Machine – M.I.T. – U.S.A.”. Nada entenderam daquilo, mas após retirarem os cipós usaram os macacões brancos meio empoeirados e com uma bandeirinha colorida no peito que encontraram numa mochila nas costas do pobre morto. Sacudiram o pó e foram dormir numa espelunca abandonada ao sopé de uma árvore escura. O desespero de ambos os fugitivos, o real e o imaginário, era tanto que dormiram o sono dos ladrões sob pesadelos atordoantes até serem acordados por flechas Reais na janela e recomeçarem o périplo da fuga aos confins sem fim.

Tendo gasta toda sua verborragia, o autor declara, aqui, acabada a descrição dessa aventura absurda, e pede que conste nas atas da História das narrativas tolas e fabulosas.

sábado, setembro 17, 2005

Considerações para uma viagem...















__Me mudar para Londres! Que boa idéia!
Deixar tudo aqui como passado indissolúvel,
como entulho a um canto da lembrança.
Me mudar para Londres!

Não sei o que têm lá.
Talvez menos humor, menos sol pro dia, menos escuridão para a noite,
um pouco menos de cada coisa que me atravanca a passagem neste beco telúrico.
Aqui tem coisas demais, sol demais, pessoas felizes demais,
motivos demais para se ser feliz.
Eu quero a sombra, não da araucária ou do umbuzeiro,
eu quero a sombra absoluta de um carvalho inglês,
com atestado de legitimidade, por pássaros ingleses que nele morem:
"Yes sire! This is a legitime english tree."

Me mudar para Londres!
Não uma fuga do submundo hemiplégico dos trópicos;
não uma busca ao intangível ruído das engrenagens do Big Ben;
Apenas um destino incontestável pelas ruas escuras e neblinadas de Londres.
E me turvar de fogging obliterando meu significado.


"And after all this, wont you give me a smile?"

domingo, setembro 11, 2005

Ataque de Bertile à Sociedade


Duas horas da manhã e os goles não cessam no Holmes, bar do Largo da DesOrdem. Caipiras e cervejas, dia de bebedeira para a Sociedade. Nunca freqüentavam lugares classe A por simples susperstição de gângster.
__Quando a humanidade atinge certo grau de profundidade racional ela torna-se angustiada. Disso nascem os suicídios, eles são apenas resultado de uma mente aberta à finitude humana, disse o Macabro, Leonard, maior assassino que Ctba e região metropolitana já viu. Famoso por suas citações Nietszcheanas antes das suas execuções, treinava ele agora seu furor filosófico tendendo ao niilismo Schopenauheriano.
__Desconheces tu a Vontade de Potência que acompanha a realização do verdadeiro homem. Não há humanidade plena fora do überman. Zancanarius com essa frase em que tentava dominar os efeitos do álcool e destilar seu furor verdadeiramente nietszcheano replicou ao Macabro enquanto coçava seu cavanhaque.
Velho hábito desses salafrários sanguinolentos, era o de beber em nome de suas vítimas. Assim foi depois do ataque à casa de Joe El. Fascínora elocubrativo dotado de qualidades hipnóticas e revendedor de H.E.C., droga importada da Alemanha também conhecida como “Hegelian Ecstasy’s Condensed”, Êxtase Hegeliano pro’s íntimos da substância. Joe EL era um dos maiores adversários da Sociedade, distribuidora oficial de heideggeraína de Ctba, no comércio de psicotrópicos. Este foi mandado ao Hades após ser obrigado a explicar a Dialética de Hegel em contraposição ao Dualismo Cartesiano e as Reminiscências de Platão sem ter de se utilizar dos exemplos da mesidade e da garrafidade... o que o fez confundir a garrafidade com a mesidade e também o cubo de sal embaralhou suas qualidades deixando a Joeelzidade longe do coitado Joe El. E agora um brinde era levantado... Dois Vivas! E Dany, a Anticristine saiu à francesa ao banheiro, nisso um sssssssssssssss... foi ouvido e... do lado de Stiepánovitch uma flecha estacou na parede. O que o fez terminar a frase ao meio em que empesteava o nome de Dostoi Naka fugido ao Quênia. Um bilhete enrolado à flecha: “Os crimes da Sociedade acabam agora, suas almas me pertencem! ASS: Bertile, A justiceira vingadora!”

Sim era ela... Bertile que foi trocada por Dostoi Naka por outra moçoila de descendência não oriental, ele queria miscigenar, a orientalidade somente não lhe era possível conceber aos seus futuros rebentos. Bertile fora trocada por uma negra judia queniana, e ferida no imo de sua origem e cultura. Formada em artes ninjiutsas, dona de uma capacidade assassina incomparável, fora contratada a peso de ouro pela Máfia Casaquistaniana de Dom Ilendilavski e agora destinava todo seu furor
na perseguição e destruição de Naka e todos os outros cabeças da Sociedade.
No alto da igreja em frente ao Holmes’s Pub a pequena bertile não expressava nenhum sinal de felicidade, alegria, dor, ódio ou qualquer descontrole, apenas uma frialdade comum aos hábitos guerreiros de uma ninja. Então o ataque começou...

domingo, setembro 04, 2005

Pam no mundo insano dos amores que dão certo!


Por sobre as nuvens havia sol, mas abaixo delas as pessoas viviam absortas e graves. O sol não iluminava a terra e os homens e mulheres andavam com um olhar estranho. Estranho, como de quem tem algo a esconder. Pam não olhava as pessoas e caminhava absorta também pelo calçadão após um dia intenso. As imagens não se digladiavam nos olhos como antes, compunham agora formas harmônicas entre si. A expressão séria das pessoas não afetava esse sentimento de leve consentimento ao destino. Ah o destino! Fora-lhe rígido com espinhos nos passos e nas mãos. O passado dera-lhe, ao lhe retirar, a força necessária pro presente. E repetia pra si mesma: “ eu te rodeio de pétalas ruivas...”; versos que um certo rapaz lhe fizera e que agora fazia que o coração despejasse sentimentos leves e deliciosidades humanas sobre a alma.

Subiu ao ônibus como se os degraus fossem de uma escadaria de nuvens que levasse a céu cor-de-esmeralda numa manhã de domigo, alguns minutos passaram como se a paisagem de prédios de subúrbio e automóveis rápidos fossem o Éden, desceu em seu ponto habitual e cruzou a rua, entrou em sua casa e deitou-se em sua cama de lençóis brancos com detalhes alaranjados, como se esta fosse um altar de bons sentimentos, e viajou com a insanidade dos amantes ao mundo dos amores que dão certo. Os problemas cotidianos curvavam-se e desapareciam nos olhos fechados, na ludicidade de sonhar-se acordada. Esteve ali por um longo tempo, de vários minutos, os postes da rua já estavam acesos, e deixou um blues ressoar pelo quarto enquanto se alimentava de emoções. Nada mais de casos impossíveis, distâncias absurdas, abismos de separação, lembranças e lembranças na memória cansada... Tudo deixado de lado por uma ordem imperiosa da emoção leve que sentia. O passado tornara-se inconveniente. Não há passado. E o coração abriu-se em pétalas em flor. Inebriada com sua imaginação olhava ao lado com olhar de admiração nos olhos fechados como se lá estivesse o rosto que desejasse ver. O quarto de janelas fechadas, mas uma brisa corria pelo seu corpo.
O tempo rodava devagar pelo relógio, ainda que lá fora voasse. De olhos fechados e respiração vagarosa de quem dorme viu um buquê de margaridas brancas, logo uma planície das mesmas flores e estrelas brancas no céu azul. Paz e calma nas pétalas. Nas pétalas brancas... Nas pétalas... TRIIIMMMMM! O telefone! O telefone! Ah tenho que atender! Hmm... tão longe das mãos, justo enquanto sonhava tão tranqüila!
__Alô!
__Oi, oi! Sou eu... __ num sobressalto do coração Pam respirou rapidamente quase assustada __ Liguei por que queria saber se... bem... Se não quer sair hoje à noite... comigo?
Contendo o riso, cheio de contentamento e lisonjeada que estava, respondeu com voz melodiosa:
__Bem... Onde você quer ir?
__A qualquer lugar... se eu tiver sua companhia!
E o universo teve sentido nesse momento, e as tempestades se acalmaram e toda fúria e violência dos furacões agora modificaram-se em calma e fluidez!
E o conto acabou__ numa esquina entre dois corações!
....................................................................................................................................
Pós-escrito:
No outro dia, por entre as nuvens e o mar e o sol, um som sibilante de turbinas desceu sobre o Santos Dumont.
__Mais um daqueles jumbos vindos de Curitiba!... Disse o fiscal estupefato.
__Pois é!
__Para o mesmo endereço?
__O mesmo... São João do Meriti!
__Mas como pode caber tanta flor numa casa só?!
__Eu li o cartão, lá está escrito: “a serem guardadas na alma pura de um lírio!”

... e finalmente: fim...

quinta-feira, setembro 01, 2005

Um trecho de "Ode Noturna"!

"O senhor com o acordeom, sentado numa banqueta, tocando uma música lenta e chorosa, tem verdades indizíveis soprando do seu velho instrumento. Ele pára de tocar, limpa os óculos, põe o seu chapéu, pois está frio e quer parecer mais respeitável Do que os senhores que usam bonés. E agora toca mais confiante, mais verdadeiro, e mais, muito mais choroso e melancólico. As pessoas não olham, alguns parados ouvem-no tocar. Não vêem a expressão de dor ao dedilhar as teclas pretoebrancas. Não a dor corporal, reumática, que talvez lhe dificulte os movimentos, não essa, mas uma outra dor, metafísica, da música que escapa de seu acordeom e de sua alma, e revoa pelas lojas e pedestres desatentos, e acorda o mendigo sob a marquise. E detém todas as verdades do universo. A melodia triste desses tempos modernos invade a alma."