sábado, dezembro 24, 2005

baudeleriana livre: primeiras estrofes

Eu quero hoje um sentimento torpe.
Tragar de uma vez a maldade do mundo,
Com um gole de toda solidão possível.

Eu quero hoje um vício que me dê prazer intenso.
Praticar uma vileza que me dê sentimentos bons.
Assassinar meus anjos e meus demônios de um só tiro.
(...)

terça-feira, dezembro 20, 2005

parabéns... ao som de ''chão de giz''


sinto-me como se fosse uma lata de pulgas ao relento. acho que é esse o sentimento. talvez nem tanto. mais um ano, menos um ano... falta alguma coisa ainda. pra supri-la eu preciso de álcool, álcool. correndo pelo meu corpo, me tonteando. me alienando da dura vida prática em que se tem de enfrentar problemas. ontem não me sentia assim, amanhã talvez as coisas mudem. talvez as coisas continuem assim ou talvez o universo se desintegre num grito no pôr-do-sol. as formigas, ouvi dizer, preparam um ataque e não restará nada depois do juízo final. talvez o álcool, descendo por meu corpo, depois do corpo a alma, depois da alma o cosmos caótico do dia-dia. menção honrosa? louvação idiota! “é proibido chorar nas ruas de asfalto”, já disse o M.I. esse sabia bem de mim. dane-se o M.I. o turbilhão da vida dá voltas e cai no mesmo beco iniludível e escuro. mas é tarde e é hora de dormir. quem sabe o universo não se desintegre amanhã antes da aurora! preciso estar acordado para ver. mas aurora é sempre vazia e até agora eu não entendi porque escrevi esse texto tão pessoal!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

claire de lune...

Claro de luar... ah é claro de luar!

Prateado... ah...! prateado como a tiara de uma princesa do século quinto
Que não se escondesse e nem se insinuasse, apenas existisse sob o universo.
Oh deus das existências! Longínquo e absoluto me leva nesse claro.

Só tenho a fraqueza como pertence,
Todo o resto se perdeu ou nem existiu.
Mas se é tudo o que tenho, então é tudo que posso te dar agora,
meu claro, meu claro de luar.
Numa bandeja translúcida, num cálice de divagações...
...em devoção como um cão ao luar.

Imensa essa vontade de gritar!
__COMO UM CÃO AO LUUUUUAAAAAAR...!
Raios na manhã escura, chove álcool nos olhos como se sibilassem neóns...
Jogam-se os neóns, vadios e invejosos do luar, sobre a fluência noturna
De almas de homens angustiados, de meninos angustiados... e de homens-meninos.
Angusti.... a.... dosssss...

Abro os olhos e vejo uma encruzilhada,
Armada de tocaia pelo destino, com a felicidade na mira.
Um deslize e baaaam...! outra vítima.

O safado do destino que fugiu numa numa carruagem para uma nuvem.
E viu de camarote o primeiro raio desse claro...
Ahhhh...
...desse claro de
luhhhh...
aaaaar...!

domingo, dezembro 11, 2005

Pam e Martin encurralados: a Sociedade descobriu os esconderijos sob o Teatro Guaíra!

“A-wop-bop-loom-map-lop-bang-boom...” disse o cantor sacolejando. Mas Ilenidlavski não sabia que o cantor sacolejava enquanto estava cantando, era a vitrola do Come-come Saloon que esganiçava um rockabilly. Outro gole de Caboom! __ drink de álcool anidro, absinto e ácidos diversos, com uma rodela de abacaxi pra disfarçar __ e Ilenid estava pronto, a noite seria longa. Promessas de morte. Uma da Sociedade: “SABEMOS AONDE VOCÊ ESTÁ! NÃO FUJA QUE SUA MORTE NÃO SERÁ DOLOROSA”. Outra da Polícia através de informantes:“FUJA ENQUANTO HÁ TEMPO, A CASA CAIU!”. A noite seria longa. Enfurnado há três dias no Come-come Saloon, já não sabia da cor do sol, mas chamado urgentemente por Pam, a líder das Lótus letais, entrou pelos esgotos e adentrou, com ajuda dos eremitas subterrâneos de Curitiba, aos esgotos no subsolo do Teatro Guaíra, seu novo esconderijo. Seus passeios noturnos pelo interior do teatro na época da encenação das óperas deram-no a fama de fantasma, o Fantasma da Ópera, e um dia fez-se então uma ópera em homenagem a esse “fantasma”.

Pam já o esperava. “Ora Ilenid. Você corre perigo! Deve ficar aqui enquanto chefio as ações da M.C.!” “A M.C. é uma engrenagem de onde não pode parar nenhuma peça. Se minhas ordens não guiarem os rumos da M.C. ela afunda como um barco que não quer mais navegar”, disse o mafioso com a arrogância que a vida lhe deu. A discussão varou horas a fio e Pam convenceu-o enfim a deixar-se estar naquele subsolo.
Três horas da manhã. “Estaplauft”! Uma bomba atinge a porta de vidro do Guairão! Um horda de capangas da Sociedade adentra o saguão e se dirige ao palco vazio, liderados por Leo, o macabro, e Zancanarius, o metódico. Tomam, então, de assalto os bastidores, depois dos bastidores as salas arredores e cafofos escondidos e descem em um ataque cirúrgico aos cubículos do subsolo onde Martin e Pam se encolhiam assustados a um canto do recinto. Então ouve-se o barulho de uma pesada de coturno na porta...

Conseguirão, Martin e Pam, livrar-se dessa armadilha inexorável do destino...? Vejam as cenas dos próximos capítulos nesse mesmo canal pedante e podre, nesse mesmo horário qualquer.

domingo, novembro 27, 2005

Pam das Lótus Letais e Ilenidlavski da M.C.: a Sociedade corre perigo!

Fazia sol em Curitiba! Fazia sol, mas uma escuridão tremenda encobria as almas pútridas dos caras da M.C., a Máfia Casaquistaniana. Ilenidlavski fora denunciado e preso com a boca na botija, com a mão massa, enfim, com caixas e caixas de H.E.C.. Flagrante delito! Mas depois de uma contenda infernal em que colocou à prova sua capacidade desmesurada de destruição, livrou-se da cadeia. Agora ele é o inimigo público n.º 1 de Ctba e região metropolitana. Acossado, caçado, escondido, enfurnado em seu castelo não podia ficar. Alternava entre seu esconderijo embaixo do Palácio Iguassu e os puteiros da capital. Uma noite aqui outra ali. Vida bandida!
A Máfia não é mais como antes. A Belle Epoque Mafiose... Bons tempos aqueles que podia se matar e extorquir com classe e gozar dos bons olhos da sociedade, mas era agora momento de se agremiar ajuda. Não havia outra chance. Ela! Sim, ela! Pam, a danada líder das Lótus Letais. Quadrilha carioca de 32 mulheres especializadas na guerrilha urbana e assaltos invisíveis, distribuidora oficial de H.E.C. no Rio e Baixada... Pam era conhecida pela fragrância de lírios que deixava pelo caminho em que passava, inebriava os policiais nos tiroteios com seu perfume e os sufocava de prazer olfativo. Conhecida já de muito tempo de Ilenid por correspondências, guardavam entre eles uma pacto de ajuda mútua que deveria ser respeitado por todos os sempres da vida, ou até que as convenicências ainda convierem. Era a hora... e a temível e sedutora líder das Lótus Letais, dona de letalidades e argúcias nunca vistas, aterrizava no Afonso Pena. Com vistas a ajudar seu fiel amigo contra as tempestuosidades da vida mafiosa e seus rivais da Sociedade que já punham olho grande sobre as áreas de influência da M.C.

Então uma nuvem cobriu o sol e uma pomba passional se suicidou de cima do edifício Itália sobre os transeuntes desatentos.

sábado, novembro 12, 2005

Ilenidlavski preso! Interrogatório acaba em narizes quebrados e estupefação popular!


__Nome?
__..., disse em silêncio.
__Nome, pôrra! Tapas, chutes, torturas de toda espécie.
Mais silêncio... Respiração ofegante.
__Nome...
__Ilenidlavski. Martin Ilenidlavski, seu criado!
__Profissão?
__...
Mais chutes, mais tapas, entram quatro policiais na sala para segurá-lo, mais dois e o faxineiro também. Não dão conta. 32 brutamontes são escollhidos na turba que aguarda na porta da delegacia para linchá-lo. Entram e finalmente o seguram.
__Profissão?
__Máfia...
__Não perguntei o nome do ramo de atuação. Só a profissão.
__Hhhh... Fhhhh..., respira arfante cansado da briga.
__O que você fazia naquele galpão acompanhado de 300 caixas de H.E.C. e mais trinta caras armados?
__Promovíamos uma festa de debutantes para sua filha, disse laconicamente.

Os policiais confabulam, chamam o delegado, ligam pro Secretário de Segurança e chegam a conclusão que Martin está sendo irônico.

__Você quer brincar não é...?! Vamos ensiná-lo a dar risadinhas rapazes!

Depois de uma briga infernal com todos os policiais o faxineiro, os trinta caras da rua, tiros de vários calibres são ouvidos, socos, tapas, puxões de cabelo e gritinhos de “tira a mão daí!”, Martin Ilendilavski saiu da sala de interrogatório realmente dando uma risadinha crucialmente sarcástica, levemente irônica, densamente contente. Limpou o pince-nez, checou as horas no relógio de bolso, concertou a posição do lenço no bolso do paletó negro como o meio-dia, e dirigiu-se a mais um assassinato marcado cruzando a multidão atônita crente em seu martírio.

domingo, novembro 06, 2005

últimas caeeirices...

I
ah acordar...
ver o dia como a sombra nova vê o dia!
ah acordar...
ter o sol por chapéu, bom amigo vem cá me iluminar!
ah deitar no gramado longínquo...
supor as questões findas...
como sobreviver, como viver, como amar, como... como...

ah... resvalar o céu com ternura,
ah ternura... palavra ruim de se usar em poesia.
pieguice dizem uns... mas o que é terno é bom e o que é bom eu quero.

ah entregar o ser ao ser e me ater ao estar!
compreender o que não se compreende, que não se deve compreender nada.
o rio compreende a existência do universo...
todos os pássaros são melhores aviadores, todas as sardinhas melhores marinheiras!
que o dia se finde na minha companhia, que a noite chegue... o dia é longo.
dê-me conforto ó noite... dê-me alegria ó dia!

II
buscar a felicidade é a necessidade geral da humanidade,
dizem uns que só os ignorantes são felizes...
se tal, então, ser perspicaz é sinal de burrice!

III
(...)

IV
e o lirismo se deita simples com uma folha seca ao pé duma árvore,
em minha almazinha triste e alegre como um palhaço frustrado.
e alguma sabiá declama shakespeare nalgum lugar desconhecido do universo

enquanto uma libélula decifra as questões do ser,
quietamente, serenamente, sem fazer alarde, à meia-noite, voando sobre um lago na mata silenciosa!

evoé...
easily...
e...vo.......é........

quinta-feira, novembro 03, 2005

da alma...


Proclamo as revoluções da alma. O corpo não tem significação por si só; máquina inútil, senão somente lúdica. Máquina defeituosa de dores e desconfortos. Líquidos sujos correndo nas veias. O homem almeja não ter corpo, superar-se a si e às dores, e ter o ar e ter a brisa por amigos. Limitado e humano quer aproximar-se de Deus, onipresente, onipotente...

Mas, Deus há? O que há além do homem? Indiferença, terror, vazio... o que não há, o nada? Se há Deus devo estender o melhor tapete e limpar o oratório já tão velho. Mas se não há, existe só o homem e o nada a bater-lhe à porta, como uma liberdade imensa e angustiante, como quem está sob a chuva e não tem guarda-chuvas. O que se deve então, além de esperar as horas fatais em que se descobre os mistérios da vida? O que se deve? Ater-se ao já? Ao agora que não se acaba, numa sucessão de agoras inacabáveis?

Proclamo as revoluções da alma. Que já não se tem a si de tão extensa. E derramo ao leito dos dias e das horas escuras em que se questiona, meu peito desgovernado e humano em forma de frases extremas. E me estendo na indissolúvel rede de armar em que está a existência e deflagro uma grande noite chuvosa para dormir.

sábado, outubro 29, 2005

Balada de uma noite suburbana...

Antônio tomou o último gole e saiu apressado, duas quadras abaixo virou à direita e à esquerda e à direita de novo e se imiscuiu à sombra eterna dos postes apagados. Ela tinha de estar em casa ainda. Cruzou a última rua desviando-se dos carros apressados e bateu forte na porta, como só um bêbado faria. Bam, bam, bam!
Nenhuma resposta, nenhum ruído. Ela devia estar em casa ainda, assustada talvez, escondida quem sabe!... Bam, bam, bam! Nenhum dos dois se atrevia a dizer alguma palavra. Os vizinhos nem se apercebiam do barulho, nem a tensão emocional de ambos. “Sua...! Sua...!”, engoliu o xingamento com um o choro que quase brotava. Bam! (...) bam. (...) (soluços lentos, baixos de não se ouvir.)
(... Agora soluços altos e choro desbragado pra todos ouvirem.) Toc, toc... abre amor, diz quase gritando. Por favor... tô arrependido! Não vivo sem v... v..ocê! Ela não significa nada pra mim. Eu juro! Eu j.. juro. Por favor...!
(..., instante de silêncio. Ele enxuga as lágrimas. Ela...)
...clict. Buuuummm! Bummm! Bum!
O som de um corpo caindo ao chão é ouvido a quilômetros de distância, os vizinhos finalmente acordam então, mas continuam a cometer adultério e o crime passional nosso-de-todo-dia.

terça-feira, outubro 25, 2005

Maldita Rotina!

Cinco horas. Triiiiiiiimm! o sol clareva prostitutamente pela cortina.
O chuveiro não esquenta, o leite acabou, onde está a chave? Maquinalmente, porta fechada, caminha rápido até o ponto. A fila dobra a esquina, no ônibus leva uma cotovelada de uma velhinha, mas consegue entrar. Desce, corre pelo terminal se desviando os camelôs da aurora, mas a porta do ligeirinho fecha em seu nariz... de volta pra fila, cabeça baixa, sente os olhares sobre si. Uma quarentona o paquera com o olho meio assim de esgueio. Não dá bola. O ligeirinho chega, prateado, lotado, apertado... Não consegue se sentar. Em pé, com o último dedo se segurando na haste metálica sente o suor aparecer e uma encoxada de um estranho. Um crente anuncia o apocalipse, alguém diz que é sábado e Deus não trabalha. Olha o relógio, todos os dias nessa hora ele olha o relógio. Só nessa hora, no restante nem se lembra de ter algo dependurado no braço, sempre no horário. Resolve confirmar no relógio de um cara vermelho muito gordo que falava alto como uma sirene de navio. Atrasado... filho-da-puta desse relógio, me enganou hoje! Na verdade estava parado há dias sem que se fosse percebido. Outra quarentona o paquera, não dá bola de novo, tem vontades de matá-la, pelo menos um sôco. Uma ruivinha de decote o olha com um charmezinho. Hmmmmm... Mas está cansado... como Sísifo ao ver a pedra rolar, os olhos se fecham involuntários e se abrem em seguida quando o ônibus pára. Hora de descer, a ruivinha lhe dá um tchau com o olhar. Ele retribui cavalheirescamente. Mais uma quadra até o serviço. Tropeça na calçada, dormiu pouco... essa insônia desgraçada. Minha cama, minha cama... Cadê minha cama...? Abre a porta, o patrão o aguarda.
__Hmmm... atrasado! De cara feia... dois segundos e uma gargalhada.
__...!, pensa estupefato.
__Seu pôrra hoje é dia de folga, não ficou dormindo porquê?
Sai, se esconde atrás de um poste e dá uma bofetada em si próprio.

domingo, outubro 23, 2005

Delenda est curitiba!


Há uma curitiba da saliva dos clientes gordos que desce pelo corpo das putinhas. “Ah bons tempos em que eu fazia ponto num puteiro decente...” __ pensava ela enquanto o cliente salivava mais. A mesma curitiba que anda vestida de bonitinha na rua XV dança na Lidô e se oferece nas boates, com olhos azuis; a mesmíssima e triste curitiba que nega bom-dias no Shopping Estação se renega a ver os mendigos. O inglês diz que é boa essa curitiba de parques e puteiros cubiculares e volta a morar na Inglaterra. Uma tal curitiba há que tem o oil-man por ícone, outra que é devota dos Faichecleres, outra de São Francisco, outra de idólatras e súditos carrancudos da neblina densa das manhãs de inverno... A curitiba das bebedeiras no Largo da DesOrdem não vê a curitiba da feirinha nos domigos de sol. A curitiba das BMW’s não repara numa outra que não come a dois dias. Aquela de freirinhas que se masturbam na escuridão do claustro, aquela que bate a carteira dos desatentos e aquela outra que fala sozinha como o Esquizofrênico da Biblioteca Pública, uma curitiba de bas-fonds e botecos, não aquela aristocrata e metida dos pubs. Não aquela que almoça no Madalosso e ouve jazz, essa traja suspensório e vai vender livros na Chain. Há uma curitiba que se deita com qualquer um, outra que se guarda para o noivo; uma que atira cuspes na cruz, outra que goza ao vê-la; uma que fica nua em Caiobá, outra que não vai à praia e repete o sinal da cruz ao ouvir palavrões, uma da Boca Maldita, outra de uma maldita boca de infâmias silenciosas sob sorrisos para os turistas.

A todas as curitibas deve-se devotar o ódio imparcial com que elas nos olham. Delenda est curitiba. A salivinha continua a escorrer dos clientes e o sol nasce sobre a neblina. Destruamo-nos a todos, curitibocas que fazem a curitiba que cada um quer. Destruamos já nossos altares e nossas bíblias e desçamos ao rés da realidade. Ó doce e amarga realidade em que nada pode ser melhor que Curitiba. Um brinde, numa taça de prata com a melhor cicuta, à todas as curitibas! Tim-tim!

terça-feira, outubro 18, 2005

bertil ataca: segunda parte!

...mas Bertile, a ninjutsa sanguinária, não contava com a astúcia e o esmero defensivo de Zancanarius. Em cada canto do Largo da DesOrdem, que é redondo, havia um capanga armado até os dentes e as miras a laser descobriram instantaneamente a cabeça de Justiceira contratada pelo vil Ilendidlavski. Bam! Pum! Tau! E Bertile sorrateira e gatunamente escapou de tiro por tiro sobre o telhado escuro da Igrejinha e entre as sombras e escuridões confusas do Centro Histórico desaparecendo entre a neblina e a garoa que principava a cair e embaçava a visão dos atiradores. “Hhhhhhhh...fhhhhhhh...”, a respiração era tudo o que podia ser ouvido de Bertile escondida em seu abrigo fétido cheio de limo e sordidezas escritas em letras orientais nas paredes sujas do antro subterrâneo sob a Praça do Homem Nu. Esse era só o esconderijo pr’as horas de perigo extremo. Hacker das mais astutas e pérfidas, vivia de grandes transferências bancárias para uma de suas 342 contas bancárias espalhadas por paraísos financeiros, como Taiwan, Virgin Islands, Burundi e Brunei. A pouco tempo havia sido aberta uma conta no Quênia. O porquê ainda não se sabe... Tais operações ilegais nunca puderam ser rastreadas nem pelos Federais, a Interpol, o FMI, a OMC; quiçá a CIA pôde ser perspicaz suficientemente para desbaratar o esquema bertiliano. Sua casa era uma humilde mansão de 32 quartos, 18 empregados e uma cachorrinha labradora.
Agora Stiepán expressava um sorriso sarcástico, Leonard, o Macabro, um sorriso irônico e Zancanarius um sorriso superior de dever cumprido, desconsideravam qual a sorte que lhes estava reservada pelo futuro, então Danyele voltou do banheiro sem saber o que havia acontecido. Enquanto isso, no Castelo do Jardim Social __construção cuja sombra se projetava sobre a cidade no nascer-do-sol e impedia que se soubesse as horas antes das nove da manhã__ era ouvido um sorriso surdo por entre as garrafas de Caninha do Vale. Era Ilenid, trêbado, confiante na vitória não acontecida. “Rsrsrsrsrs...”, uma das vadias contratadas por ele surrupiava agora o último maço de notas no cofre cuja senha fora dada por Ilenid no quase delirium tremens em que estava. E Bertile atingia o nirvana pela oitava vez naquela noite, ao som de uma versão japonesa de Smell like teen spirit, antes de preparar o próximo a ataque.

segunda-feira, outubro 10, 2005

"Ode Noturna", outro trecho apenas...

Um homem sentado à porta de um Banco.
Não come a dois dias. Não pede esmolas por orgulho próprio.
Mas deixam trocados aos seus pés.
Junta tudo rapidamente e imagina o alimento a ser comprado.
Mas o bar, mais próximo, vende álcool a preços baratos.
Fome ou vício? Vício. Confusão.
A fome o matará se não for saciada, o vício só o matará se ceder a ele.
Ele cede, fraco e humano, tenso e triste, angustiado e triste.

Noite sem estrelas.
O homem viciado deve dormir nalguma calçada,
Um sono leve e atento, com medo do mundo enquanto dorme,
Com medo de si enquanto acordado.
Na dissimulação infinita da luta entre si e o mundo, sem nunca vencer ou perder,
Apenas a luta infinita, dissimulada, e vazia.
Um embate moral, sem choque físico entre corpos,
Onde o mundo, muito maior e absoluto e assustador,
Vence constantemente sem jamais vencer por completo.

sábado, outubro 01, 2005

Morte e ressureição inevitável sob uma lua iluminada


nas ruas o silêncio cresce como uma metástase pelas sombras e postes fracos. em meu corpo as emoções devoram o tempo e o enfarte está mais próximo. duas síncopes ao dia, um aneurisma à noite. que bom ver a lua... essa deusa-godess-desèe de minhas angústias. essa amante confortável das noites claras sem estrela. São Jorge dorme e o dragão revoa sob as sonolências do Mar da Tranqülidade. tiros são ouvidos, duas balas perdidas encontram seu destino aleatório em meu coração e a humanidade queda imóvel sob os auspícios do imponderável. o salvador é morto agora. minhas fotos nos jornais. minhas frases na história. minhas mãos póstumas na calçada da fama. meu sexo e meu mel perdidos para sempre. mulheres vem de todas as nações render graças. meretrizes de todas as castas, jagunços de todas as raças, templários e anciãos, monjes e soldados americanos, centuriões e profetas louvam o mestre morto. Deus revira-se no caixão. Dante, Morrisson e Joyce entoam sonatas pós-punks. Lispector canta uma ária lasciva como réquiem. como uma ode post-mortem os cães uivam em meu louvor, então renasço das rosas murchas e dos lírios mortos. os espinhos me emprestam seu corpo e minha alma volta a ver o sol e a noite. dizem-me filho-da-puta e gênio incomparável, não sou mais que douto nas insurgências patéticas do coração. entrego-me numa blitzkrieg mental aos inimigos de prontidão. meu nome não me subscreve. meus gritos sim.

domingo, setembro 25, 2005

Carta a mim mesmo

“as my memory rests
but never forgets what I lost
wake me up when september ends”


Colombo, algum dia de setembro desse ano.


Prezado Senhor Eu-mesmo: Olá...
Nenhuma novidade no front da batalha de nossas vidas.

Todas as sortes e inssucessos, já te passam à mente, pela memória
antes que eu venha e, de olhos sinceros, lhe conte.

Agora está você aqui sentado frente a esta tela branca,
subjugado por uma horda de pixels que lhe invadem os olhos.
Nós dois nos olhamos nos olhos irresistíveis e resistimos a nós mesmos.
O espelho mente, mas mente tão bem que acreditamos nele, ingênuos e crentes.
Nesse quarto que há o pouco de nós que o mundo abriga,
reside a vontade geral.
Todos o querem agora, inconsientemente: gênio, gentleman e conquistador.
Todos o querem estupendo e virtuoso,
e não lhe permitem essa inadequação que lhe trava a fala,
essa personalidade que lhe oblitera e a divindade que lhe subjuga e domina.

Ó Bem aventurados somos nós! Eu e você, olhando essa tela branca,
Que temos ao outro para maldizer.
Mas malogrados somos nós... que só temos a isso,
e esse pouco de imaginação que nos droga e liberta...
para um cárcere vazio.

Não provocou seu suicídio ou nenhum genocídio,
nenhuma heresia conhecida ou milgare digno de canonização,
e essa turba que lhe tira a respiração e o sono, em busca de alimento ou justiça.

Nada além
de muito mais que
esperar os dias alegres.

O caminho segue e as pedras te confabulam o passado e a memória das chuvas passadas.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Narrativa tola sobre dois vadios em fuga

Como eles estavam presos perpetuamente – de uma perpetuidade de não se acabar mais -- numa cela muito escura de nenhuma luz, não lhes restavam mais que papear naqueles assuntos de perder-se de vista sobre as coisas da vida e a vida das coisas. Mas havia um plano de fuga para hoje e a conversa trazia um tom de preocupação por debaixo das falas. A fortaleza era alta e de pedras e tinha guardas e tinha o fosso e uma floresta de demônios e assombrações no arredor. Enquanto os guardas trocavam-se nas posições-de-guarda o Amigo Imaginário de Tristão abriu com a chave da sobrenaturalidade os cadeados das mãos, dos pés e da porta e com uma sonora trambolhada com um penico de aço fundido na cabeça elmada do guarda cagão e sonolento desabriram a correr e meia hora depois, após fugirem de guardas com lanças espetudas, por labirintos de calabouços, escadas tortuosas e tortas, a sala de jantar do castelo __ durante o jantar, onde curvaram-se respeitosamente ao Rei e uma leve mesura à Princesa tímida __ e de flechas pela ponte levadiça, atingiram a Floresta dos Perigos Incontáveis. Dormiram dois dias numa caverninha para recuperarem-se do cansaço. Seguiram até a taverna de Rosamunde e beberam ao anoitecer três garrafões ao Rei e outro à Princesa com um brinde aos seus olhos de um azul-incomensurável. Da entorpecência do vinho brotou-lhes a inconsciência de estarem sendo roubados. Umas moedas de prata suadamente furtadas passavam novamente de mãos. Surrupiados até às roupas, no frio nevoado e cinzento daquela noite foram expulsos, Tristão e seu Amigo Imaginário, destinados a vagar até o fim da Floresta a maldizer e a tremer. Ao amanhecer daquela noite insone e friorenta deram com a ossada de um homem, que provavelmente havia morrido chorando __ pela expressão do rosto __ , entre um trambolho de metal onde estava escrito em uma língua estranha: “Timevoyager Machine – M.I.T. – U.S.A.”. Nada entenderam daquilo, mas após retirarem os cipós usaram os macacões brancos meio empoeirados e com uma bandeirinha colorida no peito que encontraram numa mochila nas costas do pobre morto. Sacudiram o pó e foram dormir numa espelunca abandonada ao sopé de uma árvore escura. O desespero de ambos os fugitivos, o real e o imaginário, era tanto que dormiram o sono dos ladrões sob pesadelos atordoantes até serem acordados por flechas Reais na janela e recomeçarem o périplo da fuga aos confins sem fim.

Tendo gasta toda sua verborragia, o autor declara, aqui, acabada a descrição dessa aventura absurda, e pede que conste nas atas da História das narrativas tolas e fabulosas.

sábado, setembro 17, 2005

Considerações para uma viagem...















__Me mudar para Londres! Que boa idéia!
Deixar tudo aqui como passado indissolúvel,
como entulho a um canto da lembrança.
Me mudar para Londres!

Não sei o que têm lá.
Talvez menos humor, menos sol pro dia, menos escuridão para a noite,
um pouco menos de cada coisa que me atravanca a passagem neste beco telúrico.
Aqui tem coisas demais, sol demais, pessoas felizes demais,
motivos demais para se ser feliz.
Eu quero a sombra, não da araucária ou do umbuzeiro,
eu quero a sombra absoluta de um carvalho inglês,
com atestado de legitimidade, por pássaros ingleses que nele morem:
"Yes sire! This is a legitime english tree."

Me mudar para Londres!
Não uma fuga do submundo hemiplégico dos trópicos;
não uma busca ao intangível ruído das engrenagens do Big Ben;
Apenas um destino incontestável pelas ruas escuras e neblinadas de Londres.
E me turvar de fogging obliterando meu significado.


"And after all this, wont you give me a smile?"

domingo, setembro 11, 2005

Ataque de Bertile à Sociedade


Duas horas da manhã e os goles não cessam no Holmes, bar do Largo da DesOrdem. Caipiras e cervejas, dia de bebedeira para a Sociedade. Nunca freqüentavam lugares classe A por simples susperstição de gângster.
__Quando a humanidade atinge certo grau de profundidade racional ela torna-se angustiada. Disso nascem os suicídios, eles são apenas resultado de uma mente aberta à finitude humana, disse o Macabro, Leonard, maior assassino que Ctba e região metropolitana já viu. Famoso por suas citações Nietszcheanas antes das suas execuções, treinava ele agora seu furor filosófico tendendo ao niilismo Schopenauheriano.
__Desconheces tu a Vontade de Potência que acompanha a realização do verdadeiro homem. Não há humanidade plena fora do überman. Zancanarius com essa frase em que tentava dominar os efeitos do álcool e destilar seu furor verdadeiramente nietszcheano replicou ao Macabro enquanto coçava seu cavanhaque.
Velho hábito desses salafrários sanguinolentos, era o de beber em nome de suas vítimas. Assim foi depois do ataque à casa de Joe El. Fascínora elocubrativo dotado de qualidades hipnóticas e revendedor de H.E.C., droga importada da Alemanha também conhecida como “Hegelian Ecstasy’s Condensed”, Êxtase Hegeliano pro’s íntimos da substância. Joe EL era um dos maiores adversários da Sociedade, distribuidora oficial de heideggeraína de Ctba, no comércio de psicotrópicos. Este foi mandado ao Hades após ser obrigado a explicar a Dialética de Hegel em contraposição ao Dualismo Cartesiano e as Reminiscências de Platão sem ter de se utilizar dos exemplos da mesidade e da garrafidade... o que o fez confundir a garrafidade com a mesidade e também o cubo de sal embaralhou suas qualidades deixando a Joeelzidade longe do coitado Joe El. E agora um brinde era levantado... Dois Vivas! E Dany, a Anticristine saiu à francesa ao banheiro, nisso um sssssssssssssss... foi ouvido e... do lado de Stiepánovitch uma flecha estacou na parede. O que o fez terminar a frase ao meio em que empesteava o nome de Dostoi Naka fugido ao Quênia. Um bilhete enrolado à flecha: “Os crimes da Sociedade acabam agora, suas almas me pertencem! ASS: Bertile, A justiceira vingadora!”

Sim era ela... Bertile que foi trocada por Dostoi Naka por outra moçoila de descendência não oriental, ele queria miscigenar, a orientalidade somente não lhe era possível conceber aos seus futuros rebentos. Bertile fora trocada por uma negra judia queniana, e ferida no imo de sua origem e cultura. Formada em artes ninjiutsas, dona de uma capacidade assassina incomparável, fora contratada a peso de ouro pela Máfia Casaquistaniana de Dom Ilendilavski e agora destinava todo seu furor
na perseguição e destruição de Naka e todos os outros cabeças da Sociedade.
No alto da igreja em frente ao Holmes’s Pub a pequena bertile não expressava nenhum sinal de felicidade, alegria, dor, ódio ou qualquer descontrole, apenas uma frialdade comum aos hábitos guerreiros de uma ninja. Então o ataque começou...

domingo, setembro 04, 2005

Pam no mundo insano dos amores que dão certo!


Por sobre as nuvens havia sol, mas abaixo delas as pessoas viviam absortas e graves. O sol não iluminava a terra e os homens e mulheres andavam com um olhar estranho. Estranho, como de quem tem algo a esconder. Pam não olhava as pessoas e caminhava absorta também pelo calçadão após um dia intenso. As imagens não se digladiavam nos olhos como antes, compunham agora formas harmônicas entre si. A expressão séria das pessoas não afetava esse sentimento de leve consentimento ao destino. Ah o destino! Fora-lhe rígido com espinhos nos passos e nas mãos. O passado dera-lhe, ao lhe retirar, a força necessária pro presente. E repetia pra si mesma: “ eu te rodeio de pétalas ruivas...”; versos que um certo rapaz lhe fizera e que agora fazia que o coração despejasse sentimentos leves e deliciosidades humanas sobre a alma.

Subiu ao ônibus como se os degraus fossem de uma escadaria de nuvens que levasse a céu cor-de-esmeralda numa manhã de domigo, alguns minutos passaram como se a paisagem de prédios de subúrbio e automóveis rápidos fossem o Éden, desceu em seu ponto habitual e cruzou a rua, entrou em sua casa e deitou-se em sua cama de lençóis brancos com detalhes alaranjados, como se esta fosse um altar de bons sentimentos, e viajou com a insanidade dos amantes ao mundo dos amores que dão certo. Os problemas cotidianos curvavam-se e desapareciam nos olhos fechados, na ludicidade de sonhar-se acordada. Esteve ali por um longo tempo, de vários minutos, os postes da rua já estavam acesos, e deixou um blues ressoar pelo quarto enquanto se alimentava de emoções. Nada mais de casos impossíveis, distâncias absurdas, abismos de separação, lembranças e lembranças na memória cansada... Tudo deixado de lado por uma ordem imperiosa da emoção leve que sentia. O passado tornara-se inconveniente. Não há passado. E o coração abriu-se em pétalas em flor. Inebriada com sua imaginação olhava ao lado com olhar de admiração nos olhos fechados como se lá estivesse o rosto que desejasse ver. O quarto de janelas fechadas, mas uma brisa corria pelo seu corpo.
O tempo rodava devagar pelo relógio, ainda que lá fora voasse. De olhos fechados e respiração vagarosa de quem dorme viu um buquê de margaridas brancas, logo uma planície das mesmas flores e estrelas brancas no céu azul. Paz e calma nas pétalas. Nas pétalas brancas... Nas pétalas... TRIIIMMMMM! O telefone! O telefone! Ah tenho que atender! Hmm... tão longe das mãos, justo enquanto sonhava tão tranqüila!
__Alô!
__Oi, oi! Sou eu... __ num sobressalto do coração Pam respirou rapidamente quase assustada __ Liguei por que queria saber se... bem... Se não quer sair hoje à noite... comigo?
Contendo o riso, cheio de contentamento e lisonjeada que estava, respondeu com voz melodiosa:
__Bem... Onde você quer ir?
__A qualquer lugar... se eu tiver sua companhia!
E o universo teve sentido nesse momento, e as tempestades se acalmaram e toda fúria e violência dos furacões agora modificaram-se em calma e fluidez!
E o conto acabou__ numa esquina entre dois corações!
....................................................................................................................................
Pós-escrito:
No outro dia, por entre as nuvens e o mar e o sol, um som sibilante de turbinas desceu sobre o Santos Dumont.
__Mais um daqueles jumbos vindos de Curitiba!... Disse o fiscal estupefato.
__Pois é!
__Para o mesmo endereço?
__O mesmo... São João do Meriti!
__Mas como pode caber tanta flor numa casa só?!
__Eu li o cartão, lá está escrito: “a serem guardadas na alma pura de um lírio!”

... e finalmente: fim...

quinta-feira, setembro 01, 2005

Um trecho de "Ode Noturna"!

"O senhor com o acordeom, sentado numa banqueta, tocando uma música lenta e chorosa, tem verdades indizíveis soprando do seu velho instrumento. Ele pára de tocar, limpa os óculos, põe o seu chapéu, pois está frio e quer parecer mais respeitável Do que os senhores que usam bonés. E agora toca mais confiante, mais verdadeiro, e mais, muito mais choroso e melancólico. As pessoas não olham, alguns parados ouvem-no tocar. Não vêem a expressão de dor ao dedilhar as teclas pretoebrancas. Não a dor corporal, reumática, que talvez lhe dificulte os movimentos, não essa, mas uma outra dor, metafísica, da música que escapa de seu acordeom e de sua alma, e revoa pelas lojas e pedestres desatentos, e acorda o mendigo sob a marquise. E detém todas as verdades do universo. A melodia triste desses tempos modernos invade a alma."

quarta-feira, agosto 24, 2005

Suicídio constante e declaração de fúria iluminada!


Meu coração explode todo dia, ao acordar e dar-me por ainda vivo. “Oh! Não se mate!”, disse Drummond. Drummond não sabe nada sobre matar-se. Mato-me 70 vezes por minuto a cada bater do coração. Desastres na mente pulsativa, catástrofes como um beijo violento, um cheiro de suicídio, dois passos para o caos e um para o cosmos, uma moeda para um mendigo e um escarro para os deuses do pó. Dizer “com licença” é ser eufemista para “vá-te a puta que o pariu!”.As pombinhas brancas são todas pederastas, os meninos todos monjes estupradores e santos distribuidores do ódio em potencial, as meninas freiras-deusas e prostitutas, de lascívia e pureza, numa luta interna entre o talvez e o se. Creram uns na divisão fácil do mundo em filosofias, outros retiveram-se na simplicidade e na inocência e uma terceira classe, de párias covardes, tornou-se pedante e podre! Dizem uns “escrever é coisa de maduros”, mas os maduros em breve apodrecerão! Retenho-me na angústia e no descontrole. Não escrevo por gosto. Escrevo por fúria! Sobrevivo.

“Luz! Luz! Mais Luz!”

quarta-feira, agosto 17, 2005

verborragia noturna!

Estupendo o sol acordou sobre o leste e caiu sobre as almas, que distraídas, flertavam com a eternidade ignorando a finitude. Trevas e tiros de luz espocando na lentidão quente do meio-dia, silvos e psius! desviando a humanidade ao torpor maravilhoso, brisa e calma, euforia e riso. Qual coração? pergunto eu. Qual coração flechar? Boas e más notícias trazidas. Cupido ao entardecer, Baco à meia-noite. E os olhos se abrem em silêncio contido e vão por um caminho desconhecido onde a lua e a neblina ceiam as almas de anjos meninos e flui do nada uma ária de Valquírias loucas. E cai... cai como o sereno no mundo absurdo dos tornados e dos moinhos enquantno o sol se põem.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Ilenidlav mergulhado profundamente nas revoltas e tormentas de sua mente!

" Era cedo demais para se acordar, mas para quem estava a noite toda em claro seria normal estar em pé às cinco da manhã. Esteve à beira da overdose com ramonaína aquela noite, uma droga feita com os dejetos mais espúrios e sobras de toda sorte de rejeitos químicos. Bala na cabeça! Ah vc's não sabem, é bala demais! A gente fica louco e nem sabe... nem sabe o que tá fazendo.
Mas Ilenid era demais, fazia coisas demais, de um jeito estranho demais. Saiu pela rua endoidecido com uma fúria por toda coisa viva que via. Resultado: cinco assassinatos, seis espancamentos, quatro tiros à la franco atirador. Ele adorava atirar para o nada, quando esse nada era um monte de cabeças humanas despercebidas na rua. Bum... Eu ouvi um dos tiros. Corri até ele então levei-o ao meu apartamento na Avenida Rinska e explodimos nossos corpos numa entrega insana de emoções e nos deitamos e dormimos até as duas da tarde."
Giullia Neuen Katzenberg, ex-namorada de Martin Ilenidlavski.

segunda-feira, agosto 08, 2005

O início do fim!

"...e então desceu a rua correndo como um louco, olhando para traz às vezes, mas sempre batendo com aqueles pesões no chão: bam, bam, bam, bam...
É eu conheço ele. Tinha feito algo de errado. Subi a rua em direção do lugar de onde ele tinha saído, duas esquinas acima havia um corpo caído no chão com um rasgo que ia da cintura ao pescoço. Coisa horrível. Eu conhecia o tal, era o Schwarz, traficante, assassino, assaltante. Não sei quem estava mais errado, mas o tal caído no chão me disse ainda antes de morrer: me empresta sua blusa, tá ficando frio. Eu emprestei, foi a última coisa que ele disse, então corri também para não dizerem que havia sido eu. Esqueci a blusa lá. Mas os polícias nem vieram atrás de mim, não. E foi isso naquela noite. Mas durante o dia choveu muito e a chuva apagou o sangue do chão e da memória.
Louco como era não passava muito tempo sem aprontar alguma. Não tinha como, foi assim que tudo começou com o Ilenid, meu irmão mais novo, nos tempos de punk antes da máfia."

Depoimento de Layla Ilenidlavski, sobre seu irmão mais novo Martin.

sábado, julho 30, 2005

Batalha fatídica entre Stiepán, o cavaleiro do triste sentido figurado, e Valdinéli, o destemido senhor do Hades!

vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
en garde, ser decrépito!
Estevão diz:
Despresível entre os vermes, erga seu espadim para que não tenha eu a fama de covarde!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
essa sua faquinha inútil não poderá bater meu florete de aço espanhol!
tens a fuga por escolha, vá enqto há tempo
Estevão diz:
Não desdenhe meu gládio, pois nele repousa a causa mortis de incontáveis e saibas que a evasão nunca foi opção para mim, pois agora relego a vós este subterfúgio dos covardes!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
chamas-me de covarde... nenhum dos vermes aos quais já dei fim teve a petulância arrogante e estúpida de dizer tal ultraje!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
de espada desembainhada chamo-vos ao duelo pelo coração da princesa Tatiane! Ó bela Tatiane, sereis minha! não vos preocupeis!!
Estevão diz:
Não me compares aos ignominiosos seres que lhe cruzaram a frente, conheço tua fama de assassino de meretrizes e andarilhos solitários, mas hoje desafiaste um homem honrado e terás teu fim em razão de tua perfídia para com o que há de digno! E não ouseis balbuciar o sacro nome de Tatiana, Oh Helena entre as mulheres, e tu o carrasco de minha bem amada sentirás o peso de minha Montante!
Estevão diz:
O medo te fez calar-te? Sua língua vacilou ao se deparar com o elevar da minha montante? Seja homem e não temas a hora final que te aproximas, recebe-a como o cálice que te cabes pois este é segundo melhor presente que poderias ter recebido!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
jamais me calaria ante teu palavrório frouxo e tresloucado, sua retórica chã não tem veemência para gelar esses músculos endurecidos pela vida que possuo!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
tive de me desprender para atender aos clamores de um pequeno jovem que pranteava-se em seu berço a procura de amparo. Hoje acumulo as funções de tio, babá e cavaleiro andante que te fustigarás com este golpe em sua armadura puída pelo tempo e pelos seus tenazes!
Estevão diz:
Oh...! maldito sejas, me alvejaste convardemente com teu punhal oculto! Pérfido! Despertaste a ira daquele que há de te sucumbir! O extermínio te concedo agora com meu golpe, Infame!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
ó... ignominioso entre os ignominiosos! sois baixo e não tens a hombridade de golpear segundo as regras da cavalaria andante! golpeaste-me como um cão selvagem à uma presa! vejo sangue pelo minha armadura! pagarás caro pela sua falta de honra! Esteja pronto para este golpe com as costas da espada em seu elmo sarraceno!
Estevão diz:
Teus golpes assemelham-se a coice de éguas xucras prenhas, pensas que com tão oblíquo golpe hás de acerta-me novamente? Só conseguis-te tal proeza quando fizeste uso da convardia, mas hei de dar cabo nela e em teus improprérios! Que a lâmina de minha montante te transpassa o corpo!
Estevão diz:
E que tuas vísceras venham a ser alimento de corvos!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
ó... o sangue jorra! sinto minhas funções vitais falharem... minhas vistas já enegrecem, mas a ainda há forças nas mãos para rasgar-lhe o peito com meu florete! touché!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
ó demônio revestido de aparência humana... mandaste-me ao limbo negro dos desconectados... eis me volta a atormentar-te!
Estevão diz:
Assombração infernal! De onde viestes? O limbo é teu repouso agora! Mas não penses que enquanto avejão irá conseguir enlear minha mente! Irei quantas vezes necessário for mandarte aos confins!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
os mortos-vivos jamais morrem... mas ainda tenho como pena atormentar-te a eternidade. conhecerás a catarse de seus crimes pelo sofrimento que hei de te causar, ó armadura esquelética de dasein torpe!
Estevão diz:
Sei que este inomivavel prazer só poderei saborear uma só vez, mas certamente essa não terá sido a única vez que te farei esbrasear no Tártaro!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
o Hades não é comparável ao terrível sofrer de lhe ver ainda vivo... arranco-te a alma à força das carnes fétidas que possuis! venha agora comigo ao antro dos demônios que é seu lugar!
Estevão diz:
Não é por estar sem tua rota carcaça é que levarás a termo facilmente aos teus propósitos, ultimando-os! Eis que carrego o abençoado amuleto que minha Helena forjou para que criaturas como as da tua laia não viessem turbar-me os caminhos e o sono.
Estevão diz:
Agora amarro-o, oh tão prezado amule, à ponta de meu gláudio e assim tereis força para amarrar-te definitivamente aos ardis do Érebo!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
não conheço o Érebo e nessa época do ano o fogo infernal lhe será mais aclimatável... ser desprezível... ficareis sendo a pedra de Sísifo! o fígado de Prometeu, os moinhos de teu mestre quixotesco!
Estevão diz:
Voltaste sarcástico ou as chamas do Averno secaram-te o juízo? Eis que não resistiras agora aos golpes da minha montante guarnecida com o amuleto de minha amada! Ela te presenteará com o fim de tua existência!!
vldnl: "'cause everybody has a poison heart!" diz:
voltei, mas já revolto para as cinzas do além-mundo com tua alma pútrida ser decrépito... a madrugada avança e devo levar-lhe já. Não tive Tatiane, a sensual, mas terei sua alma nas chamas da perdição!

Post Scriptum:
Então a conecção do além-mundo com este perdeu-se e ambos os cavaleiros voltaram aos seus aposentos, um no Hades, outro na Augusto Stelffeld!

domingo, julho 24, 2005

Tiroteio épico nas ruas de Ctba e revelações sobre o mensalão!

Duas horas da manhã na Avenida Cândido de Abreu. E uma pick-up acompanha um caminhão repleto de ampolas de heidegeraína. Tudo bem arquitetado na mente do “Metódico” Zancanarius. Leonard com sua bereta de estimação em punho. Contavam-se trezentos pequenos riscos no cano dessa arma já famigerada, de trezentas vítimas abatidas pelo Macabro. Capuzes negros e adrenalina no sangue!!! Numa das esquinas o caminhão é interceptado e tiros e tiros são ouvidos em todo o Centro Cívico. Os capangas da Sociedade não sabiam, mas também estavam sendo seguidos por Ilenidlavski em pessoa. O sanguinário Ilenidlavski com mais capangas. Zancanarius e Leonard e seus capangas anônimos viram-se em fogo cruzado e numa armadilha muito mais bem arquitetada que seus planos pressupunham.
Bam...Tôu... puu... puu... trrarrararrara... as balas tracejantes de um AR15 de Zancanarius iluminavam fracamente a noite curitibana como vagalumes suicidas em direção do carro negro da M. C., a Máfia Casaquistaniana. Depois da Cândido a Serro Azul, pouco depois da Serro Azul atingiram a linha do biarticulado e correram por ela entre balas e projéteis sem daratenção aos sinais vermelhos. Poucos minutos de correria e estavam agora no Batel, o caminhão ficara pra trás. Leonard manejava sua bereta com habilidade nunca vista, porém um tiro com pouca mira raspou seu ombro direito tirando-lhe a certeza dos movimentos. O motorista, também anônimo: “preparem-se pro 360º”! E executou-o jogando todos contra a parede do carro. A M.C. estava agora sem saber por onde estavam seus inimigos da Sociedade. Dobrou algumas esquinas à procura, nada visto na madrugada além dos bêbados e playboyzinhos de costume.
A Sociedade voltava agora ao esconderijo, Leonard, queria descarregar sua bereta em Ilenidlavski, mas o Metódico o acalmou dizendo que a hora de tão vil ladrão chegaria. A pressa não contribui aos planos perfeitos.
E Dostoievski Naka flutuava em um Boeing em direção ao Quênia, lugar inóspito e pouco óbvio que escolhera para se refugiar das disputas judiciais envolvendo seu nome, no mais novo escândalo de compra de votos de parlamentares. Sim Naka pagava o “mensalão”, para obter leis mais favoráveis aos seus crimes, para ser acobertado pela cúpula do legislativo, e receber favores sexuais das assessoras dos deputados. Verme escroto!, diziam todos, mas não haviam provas! Apenas “acusações infundadas”, como dizia Stiepánovitch, o Advogado, aos repórteres em frente ao prédio onde estavam sendo executados os trabalhos da CPI.
Dia após dia, tudo acontecia como sempre aconteceu. O sol subindo e descendo, mendigos se encolhendo de frio nas marquises e crimes e crimes sendo executados no submundo curitibano. Enquanto isso os anticorpos de D. Naka travavam uma luta ferrenha contra os agentes de uma doença estranha recém-inoculada por um pernilongo queniano em seu sangue. Mas por infelicidade de todos os seres vivos, os anticorpos venceram e Naka nem soube de seus problemas com a malária.

terça-feira, julho 19, 2005

Retrato de província

A Província estava como nunca, ou seja, como sempre. O tempo passando duas vezes mais lento que no restante do universo. Homens, mulheres, pseudo-conservadores, cães mal alimentados, carroças e carros velhos. Quando chegamos não chegamos, pois estávamos em outro lugar que não aquele que esperávamos encontrar. Paredões escuros, poeira amarela, nuvens no céu, calor, vento, frio, vento, chuva, barro, barro... pedras na estrada sem calçamento...
Não havia uma previsão sequer de futuro naquele presente. E o presente mesmo tinha um cheiro indiscutível de passado. As revoluções acontecem a dois mil quilômetros daquelas lugar. Furacões e angústias a cinco mil. O tempo cai devagar na brisa e resvala os cabelos da moça que a dois anos era menina. Os meninos crescem com indiscutível entrega ao destino. E o destino dorme por cima das montanhas e das nuvens. Não havia como discutir, o sol até se escondia envergonhado, a província estava como nunca. Um cheiro de inverno espocava no ar. As nuvens vinham e iam, tanto que numa dessas vezes ficaram. E chchchchchchuuuuva... por entre os telhados e olhares dispersos. Uma aranha pequena fez seu abrigo nas costas de uma folha laranjeira. As poncãs mais doces da minha vida e a montanha mais fantasticamente minha do planeta, como um presente aos olhos no amanhecer. E o dia escorreu hora por hora até eu fazer as malas. Adieu, arivederti! Sentimento estranho de dever de visita cumprido e saudade dos que ficam, de lembranças doídas de um passado próximo e o sorriso de amigos de agora.
Quando a deixei, ainda continuou ela a esperar e esperar. As cartas do correio, os telefonemas dos migrados filhos de outrora, as novidades, o asfalto, as águas do rio que chegava e passava célere, os milagres e as trombetas do juízo final, se este chegar por lá. Então a aranha, pequenina que era, desceu de seu esconderijo assustada com o dia e uma margarida floresceu a muitos quilômetros dali.

segunda-feira, julho 18, 2005

storms and hurricanes in danyelle's mindnotebook!

I

Terra marrom, tosse e cadê o asfalto? E daí o copo cheio de café, cheio e frio, era da cor da mão que não bebia. Elaborando uma breve descrição dos seus desacúmulos financeiros, faz anotações...Realmente ele não sabe o que fazer, leviana impressão de que tudo irá se resolver.

II

Liberdade é o tema que já foi e ainda vai ser sempre: imprescindível, essencial, e, e, e, é tudo o que queremos na verdade: um namorado compreensível, uma vida sem namorado, dinheiro, mil carinhos pra escolher, matar os problemas, dinheiro, mil caminhos pra escolher, matar os problemas, enfim sair desta posição que nos foi imposta e poder ir pra qualquer outra. Frustração, vontade de fazer o que eu não devo, mas o que eu devo? A quem eu devo? Não, não é isso. O que é então? Qual é a questão ?

III

Cartinhas, bilhetes, ou até poesias baratas, nada disso me valem. Eu não mereço tão pouco, esse muito que você faz não basta.
DESCRIÇÃO 1
Ele é o cara, que na verdade inventou mil máscaras pra usar conforme o seu humor, homem, solteiro, procura: aquela de vestidinho largo com temas floridos por cima da meia-calça de lã-preta e um coturno no pé (afinal, faz muito frio por aqui nessa época do ano), se for ela mesmo, vai ver o seu olho castanho por trás dessa lente que ele usa para corrigir seu resquício de miopia. Mentirinha que ela conta pra todo mundo, na verdade... a verdade não existe ainda. (Esqueci essa droga!)
_Viu? Não, não ...olhe de novo!
_E agora? Você viu?
Olha só o que está acontecendo sem ninguém perceber. Existem duas pessoas cá no mundo da neblina alaranjada, quem deixou a porta aberta? Agora mesmo que a gente tente convencê-los a irem embora não vai dar certo, estão deslumbrados com esse mundo. É, é, é, lembra quando nós dois chegamos aqui? O único, ou melhor o pior dos problemas vai ocorrer sempre que os dois ou um só deles entrar percebendo que está entrando, só não perturba a ordem desse nosso mundo confortável e aconchegante àqueles que apercebessem que estão dentro do mundo quando já estão aqui.
Ficamos mais vulneráveis, até um tanto pacíficos, e é justamente por isso que levamos mais um soco no olho sem esperar, esse é o que dói mais e ocorre com muita freqüência. Voltei p´ra casa ontem e acho que vou ficar por aqui uns tempos.

IV

Ela
-EI...!? QUEM É VOCÊ?
-ANDANDO COM ESSE CAVALO MARROM.
-PASSANDO PELA TRILHA QUE EU ABRI.
-NESSA FLORESTA CHEIA DE FOLHAS.
-SÃO DO OUTONO E FAZEM BARULHO.
-DROGA! CORTEI A MINHA MÃO.
-NÃO, NÃO PRECISA, EU TENHO ESPARADRAPO.
-OBRIGADA MAS PODE IR AGORA.
-ACHO QUE O SEU CAVALO ESTÁ COM SEDE
-VÁ EMBORA, POR FAVOR!
-EU TENHO MUITO TRABALHO AINDA.
-SOCOOOORRO!!!
Ele
-EU A PEGUEI, SIM.
-TEM UM GRAMADO VERDE MUSGO, COM A GRAMA BEM APARADA (DIA SIM, DIA NÃO).
-É EXCELENTE PARA JOGAR FUTEBOL.
-FICA A CINCO MINUTOS DE CAVALO.
-NÃO IRIA DAR CERTO COM ESSE CANIVETE.
-VOCÊ IRIA DEMORAR MUITO.
-NÃO É LEGAL CHEGAR ATRASADA NO ENCONTRO.
-ESTAVA NUMA TRILHA PERTO DA SUA.
-QUANDO TE VI NÃO TIVE NENHUMA DÚVIDA.
-ESTARIA LÁ NO GRAMADO ESPERANDO.
-E QUANDO VOCÊ CHEGASSE,MESMO COM ESSE CABELO DESPENTEADO.
-EU SABERIA...
Autor
-E FORAM MORAR EM UMA CASA BRANCA, QUE FICA DE FRENTE PRO GRAMADO, PRA PONTE E PRO LAGO.
- MAS, QUE ANTES NÃO EXISTIA.


DUARTE, Danyelle Cristine (Dany Anticristine)
; aforismas sem título; in: cadernos por aí!



domingo, julho 10, 2005

A Sociedade liberta: os quatro cabeças se salvam pelas mãos sujas de Natalício!

No dia do julgamento Natalício saiu sem pressa de sua mansão comprada com dinheiro de suborno e extorsão e dirigiu-se ao tribunal com toda a calma anormal a um corrupto. O medo da descoberta, o medo da justiça, o medo de que suas trapaças fossem postas a público não lhe corria no sangue. O circo armado, juiz e jurados comprados, veredito inocentes. Inocentes... tão inocentes quanto qualquer matador de aluguel como Leonard, como qualquer mafioso como Dostoievski Naka ou arquitetador de crimes como Zancanarius. Defendidos por Stiepánotivtch acabaram por parecer vítimas injuriadas pela sociedade. No momento em que seria proferida a sentença, um leve sorriso brilhou nos dentes nos dentes de ouro do juiz Natalício. Zancanarius já cochilava, Naka fazia tricô, arte aprendida na prisão, ensinada pelo macabro Leonard que fazia palavras cruzadas chinesas.
Todo esse espetáculo foi assistido por Dany Anticristine e pelo delegado Michael Obelix, com suas madeixas ruivas de bárbaro e um par óculos escuros, ambos ficaram estarrecidos. Mas apenas um deles sentia isso realmente. Na saída um vendedor de flores ofereceu uma à policial a um preço módico de um real, ela tirou uma nota de cem e disse para que ficasse com o troco com um olhar arrogante recentemente conquistado pela sua condição financeira.
___Basta pegar mais um rato que eu vou pro Thaiti aproveitar minha vida...
Dois dias depois os capangas de Martin Ilenidlavski lançaram-se sobre um carregamento de heidegeraína, droga de distribuição exclusiva da “Sociedade”, a briga estava comprada. Zancanarius mandou mensagem a Ilenidlavski:
___Você pisou em terreno perigoso. Fuja enquanto há tempo.

quinta-feira, julho 07, 2005

Perdido...!

Então Bernardo confessou a si mesmo: mais um amor perdido. Sentia uma vontade de fuga imensa.
__Não há mais forças. E esse cansaço nos músculos, cansaço de estivador ao fim do dia. Nada a dizer a ninguém. Nem a mim, esse cara impreciso e confuso. Nem aos ouvidos mais próximos, minhas colunas de sustentação. Nada, a ninguém. O silêncio é a única defesa. Mais um amor perdido. Apenas. Minha biografia assim será um fracasso de vendas. Uma decepção mercadológica. Tanta possibilidade assassinada no berço por uma personalidade estúpida vestida de bom moço. A velhice já me sorri, desdentada, nessa imaginação medrosa”. Um pouco de blues. O olhar verdinho voltava-lhe à imaginação. Esforço por dormir, esforço inócuo. Um copo d’água, lento descendo pelo corpo.
__Ah, quanta obviedade romântica! Quanta esquiva racional! Vontade de recusar. Vontade de me matar de mel e cansaço. Vontade de escrever cartas e emoções vadias. Vontade de olhar e abraços despreocupados. Onde está o ódio que faço jus, nada! Desprezo nos olhos. Por que sou assim? Assim. Não escolhi essa fraqueza. E como luto contra, com as forças que já não existem, nem nunca existiram. Recolhido ao habitat dos vermes de forma mal-expressa, quase desconhecimento no olhar pulsando na mente pasma.
Bem aventurado seja o fim de todo começo. Louvado seja o atrapalhamento de mãos e idéias.
__Que tenho eu cá de remoer histórias?!
“O tempo é mercúrio-cromo”.

terça-feira, julho 05, 2005

Se eu fosse Deus...( parte I, o gênesis)

Ah seu fosse deus! Não teria perdido tempo. O universo teria sido criado por uma comissão de semi-deuses pré-criados para dar conta do recado, assim eu não teria que perder sete dias nesse trabalho. A primeira coisa a ser criada seria a Bahia e eu ficaria lá, em uma rede de algodão, vendo num telão as operações da comissão de criação do universo. E haveria um supervisor para cada seção da criação. E estas seções se comunicariam por memorandos celestiais que seriam enviados pelos anjos memorandeiros. Acabada a criação os semi-deuses e anjos memorandeiros seriam demitidos e jogados no inferno, uns seriam postos lá para não reclamarem para si poder sobre as criaturas, e os outros porque certamente leriam os memorandos e estariam sabendo demais para continuarem no lado de cá do além-mundo.
A Adão seria dada a incapacidade da compreensão da alma de Eva e este seria um defeito que passaria geração após geração. A Eva seria dada a capacidade de atazanar e gastar todo o dinheiro de Adão. E à serpente seria dada a função de escrever o primeiro livro de auto-ajuda de “como entender as mulheres”. E todos já no paraíso seriam obrigados a usar folhas de urtiga, e não de parreira, nas partes pudendas em sinal de pudor e recusar-se a isso seria sinal de ofensa para comigo, o senhor do universo, passível de castigo com 332 chibatadas na bunda direita. Em vez de uma serpente seria um anjo memorandeiro, rebaixado a demônio memorandeiro, que disfarçado de bruxa malvada traria uma boneca inflável a Adão e uma vibrador a Eva e mais duas maçãs que trariam dentro de si comprimidos de ecstasy. Ambos após comer as frutas fariam sexo enlouquecidamente durante muitas horas e muitos minutos. Então após o ato, que teria assistido voyueristicamente por mim, eu apareceria com uma voz de locutor de rádio AM sobre as nuvens empoeiradas e os expulsaria do paraíso e lhes obrigaria a assinar um contrato de habitação com a COHAB por uma tapera de beira-de-estrada, onde estariam obrigados a pagar por ela prestações pelos tempos dos tempos e essas aumentariam conforme a variação dos juros e a taxa de inflação de forma que me pagariam pela tapera umas três vezes. A Caim seria ministrado um curso de tiro para que não usasse um bastão para matar o irmão, e a Abel seria dada um colete a prova de balas e um pouco mais de maldade no coração para que revidasse a seu irmão. E então estaria criada a primeira guerra, entre as facções abelianas e caímicas. Caim seria morto pela facção abeliana numa emboscada num puteiro, o primeiro de todos. E Set o terceiro filho de Adão seria o primeiro advogado, para defender Abel, e seria o primeiro a corromper um juiz, eu mesmo pessoalmente ou deusisticamente. Os abelianos seriam eternamente meus preferidos e os caímicos eternamente meus renegados e seriam, no juízo final, marcados pelo número da Besta na fronte para que serem encontrados e atormentados com mais facilidade, apenas por que assim eu quero e me é mais divertido.

domingo, junho 26, 2005

A corrupção de Danyele e do juiz Natalício: Stiepánovitch em ação!

O dia estava chuvoso, como se o céu tivesse escurecido para sempre. Então a chuva parou e em dois minutos tudo estava claro, terrivelmente claro nos céus de Curitiba. Eram seis horas da tarde. O dia fôra longo e Danyele Cristine saía da delegacia depois de mais um inócuo dia de trabalho atrás de pistas acerca de Martin Ilenidlavski. Mafioso casaquistaniano aportado a pouco em terras brasileiras com uma intenção única: enriquecer mais e mais à custa de seus crimes. Ao dobrar a primeira esquina à direita, percebeu que estava sendo seguida. Antes de qualquer reação um rapaz com a barba por fazer com uma bandana vermelha na cabeça e calças grunges e óculos espelhados segurou-a rudemente pelo braço e disse: “O juiz já está comprado, qual é seu preço? Seja esperta e junte-se aos bons”. “Nem morta Stiepánovitch, seu porco sujo! Não estou à venda, como juiz Natalício Valentim”. “Precisamos de alguém de dentro da delegacia para vigiar e esse alguém é você. Dois milhões é uma quantia boa, ou quer mais?” “Mais...?”, disse Danyele mudando o tom de voz de ameaçador para receptivo. “Cinco milhões e não se fala mais nisso”. “Oh cinco milhões é meu número da sorte!” “Tem muito mais de onde esse veio, mas você precisa nos emprestar seus olhos e sua voz. E precisa estar no momento certo na hora certa. Assim a Sociedade ficará eternamente grata.”

E foi assim que a incorruptível policial Danyele corrompeu-se. Deste momento em diante ela deixou suas madeixas voltarem ao negro habitual, sem nenhum disfarce mais. Agora Danyele Cristine, era conhecida como Danyele: a Anticristine! Stiepánovitch, o Advogado, regozijando sua mais nova corrupção, deitou-se no sofá de pele de carneiros da Renânia em seu escritório e bebeu o último gole de Moët Chandon da garrafa e deixou-se dormir inebriado com o álcool e com sua arrogância sem par. O juiz responsável pelo julgamento custara apenas dez milhões, dos vinte que tinha de verba. Os outros dez foram desviados para uma conta nas Ilhas Cayman. Danyele agora dormia, pensando em Ilenidlavski, seu grande adversário. Ilenidlavski nesse momento saía de mais uma orgia com três garotas encontradas na saída de alguma boate fétida. E os três cabeças presos__ Leonard, Zancanarius e Dostoievski Naka__ entornavam o primeiro gole de um Black Label contrabandiado para o interiror da cela por Dany Anticristine. Um mendigo adormeceu sob a marquise e os ratos continuavam a festa nas latas de lixo.

sexta-feira, junho 17, 2005

O mito da angústia, unheimlichkeit!

O homem solto na terra teve de sentir dor e frio, mormaço e solidão, fome e angústia. Povoou as planícies, todas as beiras de lago e rios tormentosos ou calmos; depois das planícies as altitudes, fez casas em penhascos e cavernas e conheceu o fogo e o alimento em excesso. Construiu cidades para se proteger e para conviver, fez miséria e plutocracia, ditaduras e anarquismos, capital e bem comum. O homem criou a arte, da arte criou outros mundos muito melhores onde a chuva não resfria nem alaga e o sol não é áspero na pele, fez dos sofrimentos beleza, da beleza sofrimento, comprou a terra, viajou até a lua, mandou notícia até marte, mediu os furacões, catalogou as estrelas e previu a vontade das nuvens e do vento. Tomou para si o conhecimento e dele fez transístores e chips, BMW's e fuscas, projéteis e escudos, castelos e casebres, cálculos quânticos e réquiems e sonatas e sinfonias e axé. Teve frio e agasalhou-se, teve dor e anestesiou-se, teve calor e refrescou-se, teve solidão e apaixonou-se, teve fome e alimentou-se, teve angústia e nada pôde fazer. O homem viu Deus, superior e intagível pela dor e pela confusão, e quis igualar-se a ele. Fez de sua razão fonte inesgotável de idéias, e das idéias jorro inifinito de técnicas e inventos, então o homem viu-se ainda humano e fraco, perdido e sem lar, como se sua pátria e sua cidade em vez de aconchego e segurança lhe dissesse o quanto batalhava consigo mesmo para superar-se a si e sua condição desesperante de quem não controla o próprio destino. Fez a filosofia para entender o mundo, mas o mundo não pôde ser entendido por sua mente descontrolada e imaginativa, inclinada aos sentimentos e sensações, às emoções diurnas mais razas. Tentou o misticismo, a magia, a advinhação, o messianismo; escreveu compêndios sobre o nada, adorou falsos deuses, refugiou-se em dogmas, teve fé, teve razão, não teve mais nada, optou por movimentos hippies e punks, pelas overdoses, pelo suicídio e pela loucura, porém ainda havia a angústia de criatura menor ante o criador. Buscou a onisciência, acreditou encontrá-la, mas caiu nas celas frias de um corpo fraco. Então sentou-se em uma poltrona ou uma cadeira qualquer, esqueceu toda a odisséia que travara até ali, fechou os olhos e deixou-se dormir e descansar o corpo exausto até o dia seguinte recomeçar e cair na bulha intensa de mais um dia sobre a terra.

quarta-feira, junho 15, 2005

A queda da Sociedade no Café Paris

Meia noite numa rua escura iluminada por um poste fraco e cansado de iluminar. Aos pés deste um senhor de sobretudo negro agasalhava-se do frio com as mãos no bolso enquanto esperava por alguém e por informações importantes. Do lado oposto da rua,completamente escuro, uma mulher de longos cabelos loiros cobertos por um capuz fez um sinal e o senhor de sobretudo cruzou oasfalto apressado."Tem de ser hoje. Todos estarão lá"."Todos quem?"."Os quatro cabeças"."O Macabro também?""Sim"." Tenho contas a acertar com ele"."Espero que dessa vez tudo seja feito como o combinado e o ataque seja só depois de nossa apresentação"."Não se preocupe!""Santa incompetência a de vocês, heim! Deixarem todos escapar na última vez. Aliás até mesmo Ilenidlavski, aquele porco sujo estava lá também"."Ora como assim?""Isso mesmo, mas agora não dá mais, ele não voltará tão cedo"."Então tá volte lá para rebolar pros criminosos outra vez""Idiota!" Então a loira virou-se e em passos rápidos dobrou a esquina, desceu a rua apressada, tomou um táxi e rodou pela cidade por longos minutos até descer em frente ao Café Paris onde ela, a investigadora Danyele, e sua companheira de polícia, Tatiane, trabalhavam disfarçadas na intenção de capturarem os chefes da Sociedade ou obterem qualquer pista que os levassem até eles.

Duas horas da manhã e novamente era anunciada a entrada ao palco das dançarinas que alucinavam os pensamentos dos freqüentadores engravatados com os bolsos recheados de notas azuis de cem reais. Stiepánovitch, o Advogado, ainda não chegara, mas o show já havia começado. Os policiais desta vez estavam disfarçados entre os clientes. Porém os olhos espertos de Zancanarius, o Metódico, perceberam a movimentação estranha, os olhares preocupados na multidão, os acenos de cabeça disfarçados. O climacheirava a tocaia. Naka e Leonard, o Macabro, despercebidos olhando embasbacadamente aos movimentos sensuais das duas dançarinas ao som de Moulin Rouge, não sabiam o que acontecia. Avisados por Zancanarius trataram de retirarem-se pelos fundos, mas foi que Danyele com um golpe de Krav-magá, aprendido no seu treinamento em Israel, derrubou Zancanarius, e Tatiane num só golpe de Kung fu, aprendido em seu treinamento na China, levou ao chão os outros dois.
Os policiais disfarçados atiraram-se sobre os criminosos como gatos famintos sobre ratos iludidos. Imobilizados e algemados ouviram de Danyele que seus dias de crimes haviam acabado e do delegado em chefe ouviram que veriam o sol quadriculado pelas janelas da prisão pelo resto de suas vidas medíocres.
"Alô..." "Alô, Stiepán?""Sim"."Eles foram pegos, não venha para cá"."Pegos? Como assim?...Ah eu avisei que não deveriam voltar lá. Mas deixe comigo...deixe comigo"."E a minha recompensa pela informação vou receber ou não?""Claro que sim. Aguarde e será recompensado". Fim da ligação e o garçom voltou a servir mesas displicentemente como se não tivesse presenciado a prisão dos bandidos mais procurados da metrópole, os cães mais vis depois de Ilenidlavski, o sanguinário chefe da máfia casaquistaniana tambémchegada a pouco no Brasil.
Neste instante, com a missão cumprida, uma loira e uma morena agasalhavam seus corpos seminus em sobretudos muito usados pelos policiais da capital mais fria do Brasil."Nada de dançar para aqueles porcos salivantes", disse Danyele. "Ah...mas bem que eu não esqueço do Ilenidlavski... Oh que charme naqueles braços tão fortes e naquele olhar tão másculo"."Para mim não passa de outro porco!"

segunda-feira, junho 13, 2005

Gênesis e o mito de como o universo se fez universo.

No início era o nada. Então do nada tudo se fez. Ilógico? No início nem a lógica havia. Tudo aconteceu assim numa tarde de verão antes mesmo que houvessem tardes e verões, ou mesmo madrugadas e invernos que os contradissessem:

Houve a vontade suprema que é eterna e atemporal, não tem corpo nem mundaneidade, nenhum erro ou imperfeição, conhece e é conhecida antes mesmo que se pense ou a admita. E esta quis que se fizesse o espaço e o tempo, e assim se fez. E viu que era bom. Então criou a matéria e a metafísica, e separou-a em base fenomênica perceptível e coisa-em-si "real para si, mas não conhecida por nós"(KANT, Immanuel, in:KrV, prefácio à segunda edição). Então houve dúvida... que chato a matéria inerte dispersa no universo como uma colisão de átomos loucos e sem destino! Foi criada, então, a forma e com ela os planetas e com os planetas as luas, puxa-sacos de planetas, e soltos no espaço os asteróides para chocarem com os planetas e não deixarem assim que vida celeste caia na pasmaceira. Sobre alguns planetas foi distribuído ar e água, ao ar o direito de queimar-se em fogo e à água o direito de apagar o fogo. Mas houve incerteza... Havia o espaço e a água, os planetas e as coisas, as formas e o fogo, mas do fogo nada resultava a não ser uma violência de calor sob a pele das coisas. Então a vontade suprema criou Thomas Eddison e este disse: "Fiat lux!", e fez-se a luz num filamento de cobre, e depois disso a alegria brotou na primeira aurora dos planetas e a solidão na primeira noite dos planetas. E por todo o sempre seria assim. Mas o universo com forma e luz, cor e água, pedras e coisas era ainda incompleto! Então foi criado Diógenes e dele retirada uma costela para que se criasse o homem e outra para que se criasse a mulher. A estes foi dada a razão, mas não a capacidade de controlá-la. E foram soltos, homem e mulher, no paraíso. O paraíso era chato como descascar laranja ou tomar chuva fria. O homem quis superar à vontade suprema. E criou a família, da família os os genos, dos genos as pólis, das pólis as cidades, das cidades as metrópoles, das metrópoles o caos. Criou o homem códigos de boa conduta e prisões para os que não a seguisse, guerras para conseguir poder e tréguas para concedê-lo, BMW's e fuscas para se chocarem nas avenidadas, individualismo e factualidade, luxúria e conservadorismo, capitalismos e comunismos, e mais códigos e regras, e mais soldados e canhões. E houve fumaça sobre a cabeça dos homens e buzinas no trânsito lotado, e raios na madrugada densa, tiros na periferia escura, estradas levando ao sertão, sertanejos chegando à cidade. E houve mais caos, e houve mais dúvida. Que fazer agora, nessa angústia de avenida entupida? Por onde fugir aos riachos e campinas, como escapar da dor e da solidão? O homem pensou em sexo que o divertisse, em psicotrópicos que o livrasse da realidade, e música que acalmasse seu desejo de fuga. Dessa vontade humana nasceu o rock, do rock fez-se Ramones e de Ramones o punk como alheamento à dura condição humana. A vontade suprema pensou no verbo e o verbo se fez, do verbo brotaram palavras, das palavras brotou Homero, e de Homero James Joyce. Então as coisas, recém-criadas, fizeram sentido e os homens criaram a Filosofia para compreendê-lo, mas perderam-se na obscurescência do caos e do descontrole da sua razão como um cão sem dono, ou uma abelha sem colméia. Então para dar ordem à vida humana, e levar-lhe luz aos olhos criou-se Nietzsche e o sentido pairou pelo ar durante três mil anos até recair sobre as mentes humanas.

Muitos dias e muitas noites já haviam se passado então, e a vontade divina adormeceu sobre uma nuvem qualquer e sonhou com os dias de sua infância antes do tempo e do espaço enquanto tudo ainda era nada.

sábado, junho 11, 2005

A incrível noite no Café Paris e a primeira a aparição de Tatiane.

Duas horas da manhã. O palco preparado com luzes bem dispostas em direção ao centro. "Atenção a todos é chegado o grande momento da noite!" Ela. Ela mesma, Tatiane, a melindrosa, dotada de curvas estonteantes e um olhar fulminante entrava ao palco vestida com roupas o mais insinuantes possível. E o show começou. A mulher dançava destilando sensualidade sobre os olhares hipnotizados dos freqüentadores do Café Paris, casa noturna muito requisitada de Curitiba. Freqüentada somente pelos bons de granada cidade e turistas curiosos pela fama da sensualíssima Tatiane. Neste dia a Sociedade comemorava um grande assalto realizado aos cofres da Casa das Freiras Carmelitas, notadamente reserva de grande quantia de dinheiro. Zancanarius e Leonard, os mais embriagados, depositavam a cada minuto uma cédula azul com o desenho de uma garoupa no corpete da ninfeta, logo substituído porum biquíni mínimo. Dostoievski Naka e Stiepánovitch apenas contemplavam a sensualidade lasciva e voluptuosa que lhes era jogadoaos seus olhos carnívoros e desejosos. Mal sabiam eles...mal sabiam do que se passava por trás das cortinas vermelhas, atrás das luminárias, embaixo dos olhares furtivos escondidos no meio da escuridão penumbrosa do local. Entre uma baforada e outra de um dos presentes era planejado o fim da Sociedade e seu destino de crimes.

Martin Ilenidlavski. Notório inimigo da organização criminosa de Naka, Zancanarius e cia. Tirava outra baforada de seu charuto cubanoacompanhado de um copo de cerveja barata. Nunca bebia as cervejas caras, por superstição embriagava-se sempre com o que de piorpodia ser servido. Coçou sua barba de mendigo que lhe dava um ar irresistível frente às mulheres e acariciou o cabo de sua sub-metralhadora Uzzi escondida sob seu casaco já pensando em atacar enquanto olhava seus próprios comparsas disfarçados e esperando uma ordem para iniciar o tiroteio. No entanto Tatiane arrebatou também seu olhar e o colocou num estado de transe voluptuoso. Alguns minutos depois já livre do transe, voltando a si, com um olhar ordenou o ataque. Neste exato instante a polícia adentrou ao local dando voz de prisão aos cabeças da Sociedade ali presentes. Foi então que uma chuva de balas espocou aos olhos de cada um, as luzes apagadas deixavam que se visse apenas a faísca dos tiros que se ouvisse gritos e mais gritos sem saber-se quem gritava. Como que por milagre os quatro __ Stiepánovitch, Naka, Zancanarius e Leonard__ escaparam por uma porta secreta já conhecida. Leonard abatera cinco oficiais da lei, os outros apenas tiveram tempo de limpar a saliva por olharem a dançarina Tatiane antes de correr.

Ilenidlavski saíra também ileso anonimamente na correria da multidão que deixou o local. Quem poderia ter dado a informação à polícia? Quem era o delator, o informante infiltrado, ou seria apenas um observador ali presente? Dúvidas, apenas dúvidas bailavam na mente dos quatro cabeças da Sociedade. Tatiane e uma de suas amigas, uma loira de cabelos longos que preparava-se para entrar ao palco no momento da confusão, ao tentarem correr para o camarim tropeçaram com seus saltos-altos e caíram nos braços de Martin Ilenidlavski. "Meu herói!", exclamaram ambas ao mesmo tempo sentindo-se arrebatadas pela presença máscula e pelos músculos muito desenvolvidos do criminoso. Então voltaram ao camarim para protegerem-se dos tiros com o coraçãobatendo rápido e muito forte, tanto por presenciarem tamanha confusão, quanto por terem conhecido em situação tão insólitaalguém Ilenidlavski e seu charme inconfundível.

terça-feira, junho 07, 2005

Um vampiro pós-punk com um pico-na-veia.

Na rua um cheiro de álcool e monóxido de carbono. Um pico-na-veia. Um bom pico-na-veia, daqueles que eu nunca farei:
Às nove horas de um domingo qualquer... a cabeça estava um pouco tonta, mas ainda via homens bem-vestidos e mulheres bem-comportadas saindo de um teatro pensando no que fariam à noite depois das crianças dormirem; o mesmo que pensava às suas filhas de doze anos olhando para jovens de vinte e poucos muito confusos sobre a terra. Santificada seja a ilusão...bem elogiada seja a danação...Dos orgasmos de todos os profetas e suas cartilhas de boa vivência nasce um cheiro indissolúvel de luxúria.
"A benção meu pai, a benção minha mãe! Vou pro ponto, rezem por mim, para que não seja morta, para que eu seja desiludida, para que eu não veja a luz do dia sem dinheiro pro almoço de vocês...que cada dia seja como este dia, que cada noite seja como esta noite que não é noite, uma eterna penumbra dentro de mim pelos séculos dos séculos...que meu corpo sempre jovem, meu sorriso sempre branco, minha pele assim tão lisa, meus lábios asim tão vermelhos tragam mais um dia de vida e conforto mínimo para vocês, pai e mãe. A benção meu pai, a benção minha mãe! O dia está escuro, eu não posso ver como meu dia passa em silêncio à minha frente e a velhice armada de faquinha afiada à minhas costas. A benção meu pai, a benção minha mãe."
Na anca lasciva das colegiais brota um cheiro de suicídio em suas coxas como os raios do sol sobre a terra. Chove sobre minhas emoções o mel das abelhas da rua quinze e botões de rosa em flor sob as blusas insinuantes. Esquiva o olhar e mergulha nos meus olhos com toda a força de sua adolescência.
Um estudante se confunde na multidão atônita da noite curitibana em direção à sua casa, mas como não se perder?... entre ruas tão escuras, entre almas tão iludidas, entre olhares tão fortuitos. Santificada seja sua danação ó homem de bem. Bem aventurada seja sua confusão mental ó anjo pós-punk. Enaltecida seja a multidão dos seus olhos. Estuprada sejam suas palavras, distorcidas sejam suas confissões ao pe´do ouvido. Tapa na cara das virtudes morais, tropeço nas pedras do caminho virtuoso, ainda assim desiludido e de olhos abertos, consciente e de olhos bem abertos sem disfarce atrás de nenhuma máscara alheia.
...então o dia nasceu barulhento e estéril e todos foram outra vez convidados ao ruído inútil do dia-dia.

sábado, junho 04, 2005

Assalto à casa do sofista Alexandr!

Jonathanus Zancanarius quando criança tinha o hábito de esconder -se atrás da porta doquarto onde estava o berço de sua irmã mais nova, hoje já adulto, tem o hábito de praticar assaltos relâmpago com precisão cirúrgica. Alexandr era sofista conhecido em toda região metrpolitana de Ctba, dava aulas de metafísica, de vagas concorrídisssimas por sinal, com uma extrema habilidade retórica onde distorcia, contorcia e mutilava a realidade sem que seus discípulos soubessem; estes enchiam-se de admiração e orgulho pelo mestre. O que nenhum deles sabia é que Alexandr era um viciado e apenas conseguia destilar tanta sabedoria sofística quando estava sob o efeito de a heidegeraína, uma droga muito conhecida na Alemanha, onde fora inventada.
Tudo planejado, Jonathanus e Leonard, O macabro, estavam acertando os últimos detalhes e foi que o celular de um deles tocou, era E. Dostoievski Naka. "Sem falhas desta vez!""Não se preocupe chefe, hj a Polícia Federal não vai interferir", disse Leonard. "Assim espero" Telefone desligado, Jonathanus disse:" o Naka está tomando controle demais, querendo poder demais"."Controle antes de ser controlado", disse O macabro. "É o que farei, mas não hj, que tenho contas a acertar com Alexandr". Jonathanus foi discípulo de Alexandr em passado não muito distante. Decepcionado, hj ao completar dois meses de atraso no pagamento, não havia mais o que esperar. Leonard desceu do carro e caminhou pela rua escura enquanto Jonathanus fazia sua última oração satânica. Ambos posicionaram-se em frente à porta de Alexandr e estouraram-na com chutes violentos, Alexandr na posição de flor de lótus sobre uma mesa com um exemplar de "Como influenciar pessoas" do Roberto Shiniashiki jogou-se aos pés de ambos implorando clemência. Leonard citou: "Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel" de Assim Falou Zaratustra. E após uma sessão de pressão psicológica em que Alexandr foi coagido a confessar que Aristóteles era melhor que Platão e que Kant e melhor que Heidegger, este foi condenado à morte e executado com cinqüenta perguntas estúpidas sobre metafísica, ao que não suportou falecendo de colapso cardíaco-metafísico e insuficiência ontológica no Dasein.
"Como foi?". "Tudo certo, este não vai dever pra ninguém mais". "Excelente". Fim da ligação. "Temos contas a acertar Naka...Temos contas a acertar..."

terça-feira, maio 31, 2005

A Sociedade, como tudo começou.

I
Naquela manhã o sol teimava em ser estupidamente claro e Jonathanus Zancanarius fechava seus olhos sob os óculos de armação escura. A noitada no bordel havia sido homérica e agora o sol queimava suas retinas fatigadas da nudez feminina noturna. Eduardo Dostoievski Naka fora quem havia pago tudo: mulheres, drogas, bebidas. Era a comemoração pela entrada no Brasil de uma ramificação da máfia nórdico-japonesa. Em terras curitibanas fora batizada como "A Sociedade", organização criminosa destinada a estorquir, contrabandiar, saquear, invadir, roubar, usurpar se utilizando de todas os meios como a mão-leve, a violência gratuita, a tortura, o suborno e a corrupção em geral para captar mais e mais poder e dinheiro aos bolsos de E. Dostoievski Naka e J. Zancanarius, seres humanos denigridores da raça humana.

II
Leonard, era conhecido desde a infância pela morbidez de suas ações sempre pautadas pelo sofrimento alheio. Na terceira série citava parágrafos inteiros da Crítica da Razão Pura à professora quando esta perguntava se havia entendido a lição. Criado entre os livros, tinha especial admiração por Nietszche e quando assassinou seu gatinho de estimação na churrasqueira recitou três aforismas nietszcheanos ao sepultar as cinzas do pobre animal sobre uma roseira murcha. Esta tornara-se sua marca. Cada uma de suas vítimas era obrigada a ouvi-lo recitar trechos de Ecce Homo, ...Zaratustra e outras obras de Nietszche enquanto este colocava agulhas sob suas unhas. Por essa crueldade sem tamanho, esse senso de maldade tão bem arquitetado é que fora convidado a participar da Sociedade. Convite aceito, agora Leonard, tornara-se Leonard, o Macabro.

III

Stiepánovitch fugiu de casa aos onze anos de idade para morar com uma moça de vinte e cinco anos. Conhecido por sua lábia incomensurável aos dezessete anos entrou na faculdade de direito. Ser humano nada ortodoxo era fã de Guns'n'roses e vestia-se como grunge. Odiado por todos os que já haviam convivido com ele, tornou-se o advogado mais requisitado de Curitiba e Região metropolitana. Todos sabiam que corrompia juízes e jurados como uma naturalidade assustadora. No caso Estado x Darth Vader conseguiu que absolvessem o criminoso unanimamente e ainda pagassem uma quantia incrível em euros como forma ressarciemento por danos morais. E por essa facilidade de corromper até madre carmelita e pelos seus bons relacionamentos com as todas as esferas da Justiça e da injustiça é que fora convidado a tomar participação nas ações vis da Sociedade. E agora Stiepánovitch Lemonovski Cruz é somente " O Advogado".

sábado, maio 28, 2005

METAPOESIA

Mas por quê terminar a poesia,
se há que rimar com fantasia
novas rimas de botequim?
São fáceis, eu diria.
Mas não há filosofia
que insista em um verso ruim.
E não há jeito este poema está findo.
Pra aprender a rimar direito
só outros poemas construindo.

quarta-feira, maio 25, 2005

Melquíades

"Conforme ele mesmo contou a José Arcadio Buendía, enquanto o ajudava a montar o laboratório, a morte o seguia por todas as partes, farejando-lhe as calças, mas sem se decidir a dar o bote final. Era um fugitivo de quantas pragas e catástrofes já haviam flagelado o gênero humano. Sobreviveu ao escorbuto na Malásia, à lepra em Alexandria, ao beribéri no Japão, à peste bubônica em Madagáscar, ao terremoto na Sicília e a um naufrágio multitudinário no Estreito de Magalhães. Aquele ser prodigioso dizia possuir as chaves de Nostradamus era um homem lúgubre, envolto numa aura triste, com olhar asiático que parecia conhecer o outro lado das coisas. Usava um chapéu grande e negro, como as asas estendidas de um corvo, e um casaco de veludo patinado pelo limo dos séculos. Mas, apesar da sua imensa sabedoria e de sua aura misteriosa, tinha um peso humano, uma condição terrestre que o mantinha atrapalhado com os minúsculos problemas da vida cotidiana. Queixava-se de achaques de velho, sofria pelos mais insignificantes prejuízos econômicos e tinha deixado de rir a muito tempo, porque o escorbuto lhe arrancara os dentes."

Marques, Gabriel García; in: Cem Anos de Solidão

__Trecho em que é descrito o fantástico Melquíades, cigano que levou ao conhecimento dos habitantes improváveis de Macondo a bússola, a lente de aumento, o ímã e o gelo entre outros inventos inimagináveis.

terça-feira, maio 24, 2005

O cosmos dissolvido

(Plágio do Drummond)

Como andava na poeira de uma estrada
dos campos de berço e juventude
e as pedras da estrada não dificultassem meu caminho
e ainda indicavam sua seqüência,
e pinheiros e eucaliptos frondassem à beira delas,
desiludidas de qualquer entendimento
__antes que entregues ao sono desdenhoso__
e a máquina do mundo não desse
qualquer notícia de si,
o cosmos dissolveu-se sem lamento ou murmúrio,
sem aviso de espetáculo ou gritos na planície calma,
quedando-se ignóbil ao lado do dia
e juntando ao sonho seu correspondente pesadelo
e rompendo com o sonho a sua ponte com o tangível
e dando ao sonho seu quê de absurdo
como um amanhecer à meia-noite
se estendendo sobre os seres
deste ou qualquer outro ácaro cósmico habitado
por pedras e intelectuais pensativos,
entregues à gênese ontológica das coisas
e aos ínfimos críveis objetos
ou os espectros inteligíveis do ser
corroídos e perpetrados nas mundanas fibras
da condição humana, refletidas no olhar dos mendigos silentes
na marquise de seus chapéus.
(...)
Enquanto isso as estrelas observavam cegas,
por trás do céu azul, os movimentos sem cálculo
no teatro dos homens de gravata.

domingo, maio 22, 2005

O dia de suicida de dmitri

Revejo a hora em que dmitri, meio cambaio, se refugou de si e o quinto andar se fez presente, em seu corpo cansado da vida torta. As ilusões se anuviavam a um canto da memória. O horizonte antagonizava sua percepção cega de si e o mundo era só e nada mais. Queria ser anjo de asas fluidas, era simples humano. A vida é inútil como um fóton sem uma visão para percebê-lo, torta como uma canção romântica, estranha como um sol noturno e tudo restante é forma vil.

Ninguém viu quando do quinto andar dimitri voou de si próprio e as asas se abriram no sol rumo ao asfalto negro de presença ignorada.

sábado, maio 21, 2005

Carpe diem

Série de poesias pós-adolescentes, pré-adultas, anti-despóticas, pós-punks e pós-modernas.
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Hoje o dia não vem bater à porta
Nem eu ao abrir direi: sinta-se em casa.
Ontem ele veio, cansado da batalha arfante,
Nem lembrou de sentar-se ao sofá e me disse:
__ Depressa! Depressa!
O futuro sombrio te espera,
te aguarda ali na rua.
Rápido! Rápido, fugir!
Dinheiro velho embrulhado ao bolso,
Coca Cola e cocaína*
para o sustento e os desvarios do corpo
e mulher bem bonita para o prazer noturno.
Rápido! Rápido fugir!
Atravessar a madrugada e fazer amigos e beber
o bom vinho da vida.
Rápido! Rápido correr
entre bibliotecas e fazer poesias
até que esta vida passe em cortejo musical.

*diga não às drogas e diga droga aos nãos!

terça-feira, maio 17, 2005

Eduardo, o sanguinolento (Parte II)

...Tudo planejado e arquitetado nos detalhes mais mínimos. A rua estava escura àquela hora. Nove e trinta e dois minutos da noite. Passos calmos são ouvidos no fim da rua, um a um, um pé depois o outro. A fragilidade ouvia Frank Zappa em seu cd player e batucava sobre a pistola, guardada no bolso, o ritmo do jazz. Era Leonard, O Macabro, indivíduo da pior espécie, gostava de recitar aforismas nietzscheanos antes da execução de suas vítimas. Capanga contratado para fazer o serviço sujo e comandar os assaltos da madrugada às casas dos devedores da Sociedade. Cinco passos o separam da morte agora. E agora três passos apenas. Uma rajada de metralhadora é ouvida no silêncio do subúrbio curitibano e o corpo de mais um comparsa é destroçado pelas balas. Pneus de carro cantam enquanto uma voz desafinada grita através da janela do veículo: "Getting nowhere fast!"

Enquanto o sinal não abria, Eduardo aguardava com as mãos tensas no volante. A grande hora estava por chegar, seu grande desafeto em poucos minutos sairia do motel com sua BMW e sua amante de olhos verdes. Era Martin Ilenidlavski, chefe da ramificação da máfia casaquistaniana no Brasil. Contrabandista, estelionatário, assassino, mão-leve. Roubava até doce de mão de criança somente por prazer. Diziam que matava às vezes só para ver o quanto de poeira subia do chão quando o corpo caía. Concorrente mais ferrenho às ações da Sociedade. Já eram históricas os tiroteios entre as duas gangues na Avenida Cândido de Abreu e XV de Novembro, que sempre resultavam em dezenas de mortos. Mas nos últimos meses ambos os lados concordaram em fazer as pazes ainda que em nome dos negócios. E Martin Ilenidlavski e Eduardo Naka podiam ser vistos deliberando sobre as ações de ambas as organizações no Largo da Ordem, juntamente a Johnatanus Zancanarius, o Schwarzmann, entre um gole e outro do vinho mais caro. Agora o sinal já estava por abrir. Duas esquinas à direita e a esquerda e seu carro se emparelhou ao de Ilenidlavski que já havia saído do motel depois de horas lá dentro. Os pneus dos dois carros cantaram e numa manobra arriscada Ilenidlavski saiu do campo de visão de Eduardo e iniciou os disparos. A primeira rajada atingiu os pneus traseiros do Tempra de Eduardo e o carro capotou 12 vezes. Inexplicavelmente o meliante saiu ileso. Pôs seu óculos escuros, tirou uma pistola sobressalente do casaco e disparou 12 vezes também, uma para cada capotada, sobre o carro de Ilenidlavski. Ao atingir o tanque, um dos projéteis detonou o carro pelos ares. Testemunhas dizem ter visto logo após o ocorrido, um rapaz alto forte e musculoso, vestido com uma camiseta preta com letras gragas nas costas e uma mulher de olhos verdes pegarem um táxi nas proximidades do enfrentamento. O taxista os levou ao aerorporto de onde pegaram um vôo com rumo desconhecido. Na caixa de email de Eduardo Naka, no dia seguinte, havia uma mensagem sem título onde estava escrito em russo: "Eu voltarei.

Agora, com a noite já passada e os prmeiros raios de sol, o assassino, preocupado com o futuro e com seu inimigo à solta, caminhava pela Erasto Gaertner com seus tênis negros enquanto dizia para si o quanto havia sido difícil aquela noite.