
Há uma curitiba da saliva dos clientes gordos que desce pelo corpo das putinhas. “Ah bons tempos em que eu fazia ponto num puteiro decente...” __ pensava ela enquanto o cliente salivava mais. A mesma curitiba que anda vestida de bonitinha na rua XV dança na Lidô e se oferece nas boates, com olhos azuis; a mesmíssima e triste curitiba que nega bom-dias no Shopping Estação se renega a ver os mendigos. O inglês diz que é boa essa curitiba de parques e puteiros cubiculares e volta a morar na Inglaterra. Uma tal curitiba há que tem o oil-man por ícone, outra que é devota dos Faichecleres, outra de São Francisco, outra de idólatras e súditos carrancudos da neblina densa das manhãs de inverno... A curitiba das bebedeiras no Largo da DesOrdem não vê a curitiba da feirinha nos domigos de sol. A curitiba das BMW’s não repara numa outra que não come a dois dias. Aquela de freirinhas que se masturbam na escuridão do claustro, aquela que bate a carteira dos desatentos e aquela outra que fala sozinha como o Esquizofrênico da Biblioteca Pública, uma curitiba de bas-fonds e botecos, não aquela aristocrata e metida dos pubs. Não aquela que almoça no Madalosso e ouve jazz, essa traja suspensório e vai vender livros na Chain. Há uma curitiba que se deita com qualquer um, outra que se guarda para o noivo; uma que atira cuspes na cruz, outra que goza ao vê-la; uma que fica nua em Caiobá, outra que não vai à praia e repete o sinal da cruz ao ouvir palavrões, uma da Boca Maldita, outra de uma maldita boca de infâmias silenciosas sob sorrisos para os turistas.
A todas as curitibas deve-se devotar o ódio imparcial com que elas nos olham. Delenda est curitiba. A salivinha continua a escorrer dos clientes e o sol nasce sobre a neblina. Destruamo-nos a todos, curitibocas que fazem a curitiba que cada um quer. Destruamos já nossos altares e nossas bíblias e desçamos ao rés da realidade. Ó doce e amarga realidade em que nada pode ser melhor que Curitiba. Um brinde, numa taça de prata com a melhor cicuta, à todas as curitibas! Tim-tim!