terça-feira, outubro 25, 2005

Maldita Rotina!

Cinco horas. Triiiiiiiimm! o sol clareva prostitutamente pela cortina.
O chuveiro não esquenta, o leite acabou, onde está a chave? Maquinalmente, porta fechada, caminha rápido até o ponto. A fila dobra a esquina, no ônibus leva uma cotovelada de uma velhinha, mas consegue entrar. Desce, corre pelo terminal se desviando os camelôs da aurora, mas a porta do ligeirinho fecha em seu nariz... de volta pra fila, cabeça baixa, sente os olhares sobre si. Uma quarentona o paquera com o olho meio assim de esgueio. Não dá bola. O ligeirinho chega, prateado, lotado, apertado... Não consegue se sentar. Em pé, com o último dedo se segurando na haste metálica sente o suor aparecer e uma encoxada de um estranho. Um crente anuncia o apocalipse, alguém diz que é sábado e Deus não trabalha. Olha o relógio, todos os dias nessa hora ele olha o relógio. Só nessa hora, no restante nem se lembra de ter algo dependurado no braço, sempre no horário. Resolve confirmar no relógio de um cara vermelho muito gordo que falava alto como uma sirene de navio. Atrasado... filho-da-puta desse relógio, me enganou hoje! Na verdade estava parado há dias sem que se fosse percebido. Outra quarentona o paquera, não dá bola de novo, tem vontades de matá-la, pelo menos um sôco. Uma ruivinha de decote o olha com um charmezinho. Hmmmmm... Mas está cansado... como Sísifo ao ver a pedra rolar, os olhos se fecham involuntários e se abrem em seguida quando o ônibus pára. Hora de descer, a ruivinha lhe dá um tchau com o olhar. Ele retribui cavalheirescamente. Mais uma quadra até o serviço. Tropeça na calçada, dormiu pouco... essa insônia desgraçada. Minha cama, minha cama... Cadê minha cama...? Abre a porta, o patrão o aguarda.
__Hmmm... atrasado! De cara feia... dois segundos e uma gargalhada.
__...!, pensa estupefato.
__Seu pôrra hoje é dia de folga, não ficou dormindo porquê?
Sai, se esconde atrás de um poste e dá uma bofetada em si próprio.