domingo, fevereiro 12, 2006

quem tem um coração que cuide dele

quem tem um coração que cuide dele (isso mesmo meus amigos, meus pobres amigos. se é que posso lhes chamar de amigos, me ignorem se for o caso)!

houve um tempo em que achei que o coração devia ficar na mente, lugar seguro para ser policiado e que se impedisse mais romantismos bobos. esse tempo passou, hoje o coração deve ser é estirpado. isso mesmo sejamos todos cruéis com os sentimentos alheios, façamos de nossos companheiros de humanidade apenas meios para atingirmos nossas metas. fim em si mesmo? kant era um romântico, deixe esse kantismo pra lá...

os cardiologistas já me desenganaram: "peça de museu esse seu coração meu rapaz, tecnologia do séc XVIII. a receita é ler Werther!". cardiologistas, sempre querendo ver seus pacientes deitados numa cama de UTI ao som de um apito longo e intermitente. "menos um!..." sejamos cruéis primeiro com os cardiologistas, depois com os anjos da guarda. maníacos estúpidos, bêbados todos! onde eles estavam qdo eu fiz as minhas cagadas do coração? nalgum boteco celeste, bebendo e cantando a garçonete que devia ser uma querubina safada também. antes pensava que meu anjo da guarda tivesse se suicidado, imaginando-se um fracassado comigo. tinha pena dele. depois tive certeza:'foi o Murphy que matou meu pobre anjo da guarda". mas não, bêbado safado, displicente! não-cumpridor de seus deveres.

ajudar velhinhas a atravessar a rua?... desculpem-me velhinhas, tenho mais o que fazer, ocupado demais em atravessar-me a mim mesmo. meu coração já secou, as amadas furtivas, as amadas de flerte, as eternas efêmeras que nunca ficam, essas não cabem mais por aqui nessa terra de miocárdios, pericárdios, válvulas e tumores de amores passados. quem tem um coração que cuide dele. o meu como não tem solução (não entrego à ciência, sou pudico e não creio nessa religião politeísta do século XX) vai ser aposentado, trabalhar sem obter resultados não adianta, melhor parar e descansar. colocar o pobre numa cadeira de balanço, sob um xale xadrez, com uma vista bonita e sobreviver nas ruas infinitas.