segunda-feira, dezembro 11, 2006

As peripécias de Plínio

O sol se chocava nos óculos espelhados de Plínio, enquanto caminhava em alguma rua da cidade. Pra onde vai ainda não sabemos.

Um livro na mão, pouco dinheiro no bolso, um bilhete de loteria amassado. Consultou as horas no relógio ao entrar no bar. Dois goles de uma aguardente barata e um cigarro mal fumado caído no cinzeiro, saiu de novo pra rua contraindo os olhos antes de voltar a usar os óculos. No anel prateado da mão direita Sheila não estava esquecida. Uma esquina à esquerda e entrou por um corredor com uma escada sem iluminação, o a falta de reboco se acentuava em buracos na parede, primeiro andar entrou em outro corredor com uma lâmpada quase desnecessária, havia janelas grandes de vitrô sujo. Parou em frente ao apê 15 e bateu na porta, ana Lúcia atendeu:

__Oi...
__Que bom que você veio! Entre.
(... instante de silêncio, Plínio observando os móveis, a paisagem da janela) Fizeram sexo a tarde toda. Depois de meia hora de sono, Plínio acordou e foi até o banheiro. Tirou a aliança do dedo, olhou pra ela sem respirar. Jogando água no rosto teve a sensação nítida de que tudo estava vazio. O universo dos relacionamentos humanos é um vácuo sem motivos.

Toc... toc... Lúcia batendo na porta do banheiro depois de alguns minutos de espera, usava uma camisola vermelha com a barra já um pouco puída.

__Tudo bem Plínio?__Ele jogando o anel no lixo disse que sim. Respirou e pôs a mão no trinco de cobre escurecido. Parou e voltou, entre o lixo pegou a aliança, sentindo o vazio que tudo aquilo significava.

domingo, novembro 12, 2006

As peripécias de Plínio

Em frente ao boteco Plínio fumava encostado na parede, do outro lado da rua Sheila saiu da casa do namorado.
__Que tava fazendo aí?... você é minha!
__Tá maluco! Me solta... acabou, entendeu! Acabou!
__Você é minha!...
__Me deixa!

Soltou o braço da moça, fúria sob o óculos, faca na cinta! Matar ela? Matar ele? Se matar? Não matou ninguém. Voltou pra casa e cortou limões com a faca afiada e com muita cachaça afogou a noite dizendo “você vai voltar a ser minha...”.

terça-feira, outubro 03, 2006

ECCE HOMMO

Andando por uma rua escura, fétida, latas de lixo ao chão, Pam e suas Lótus Letais, preparam-se para invadir o apê-esconderijo de Bertile. A Sociedade regozija a briga interna das novas chefas da Máfia Casaquistaniana.

Não se sabe ao certo como foi, mas do outro lado da cidade, numa roda de magia negra, Ilenidlavski fora invocado e chamado à Terra. Qual não foi a surpresa quando por entre o céu noturno um relâmpago devolveu Ilenid à forma humana. Diz-se que 18 galinhas negras, 25 bodes e 32 urubus foram sacrificados naquela noite, mas o fato é que Ilenid respirando os ares poluídos de Ctba, sacou de seu calibre 22 de estimação e pôs abaixo um a um, os que o tiraram do sono eterno para a facticidade humana outra vez.

Bertile e Pam engalfinhavam-se com golpes jamais vistos por seres dotados de polegar opositor, assistidos pacificamente pelas Lótus Letais e por um cara de binóculos do outro lado da rua. Stiepán, o advogado, dizia consigo:
__Isso, com a direita, a esquerda agora... __ como se dirigisse os destinos da luta.

Krav Maga, Tae kwon do, Kung fu em todas as suas variações, a técnica da águia assassina, do dente-de-sabre... o repertório de golpes inimaginável. Stiepán ora pensava que Pam, ora que Bertile sairia encedora, mas suporia que a briga seria interrompida.
Valham-me todos os santos! Ilenidlavski abre a porta com um chute. Ressuscitado! ECCE HOMMO! Ambas perplexas olhavam estupefatas, esperavam serem redimidas pelo sofrimento ao vê-lo. Ilenid, ajeitando seu topete bagunçado com o chute na porta, disse calmamente:
__Ora minhas queridas, não briguem, sei que me mataram, mas creio que só minha existência poderá livra-las do extermínio. A vencedora dessa luta não conseguirá deter a Sociedade, mas nós três poderemos. Proponho partilharmos de dos lucros da MC. 33,33% para cada um.... heim...
__Mas você não quer vingar sua morte, matar nós duas?__ perguntou Bertile, sob o olhar perscrutador de Pam.
__Ora, eu teria feito o mesmo. Agora precisamos conversar sobre negócios...
Martin Ilenidlavski, o magnânimo, colocando ordem na casa salvava sua reputação e colocava em cheque a existência da Sociedade. Quem sobreviverá? Deus talvez saiba.

domingo, julho 16, 2006

Não estou me afogando o suficientemente rápido. A gente deve prestar atenção quando alguém diz "Esse mundo não é pra você, caralho!". Algumas bocas de batom vermelho sem importância passam considerando-se o centro do universo. Isso dá uma vontade de dormir!... Vou dormir pra acordar. Existe uma espectativa qualquer... rs!... Ela não vai se concretizar. Não estou me afogando o suficientemente rápido. A noite não acabou, ainda tenho que desafinar um pouco as músicas que eu tenho de memória. Acabaram as pílulas de ar blasé, que eu tinha no bolso de trás da calça.

sábado, julho 08, 2006

in-der-welt-sein


Todas as músicas são doídas. Toda alegria é chapliniana. O sol é noire. A vida dança tango e canta Lupicínio Rodrigues.

(...), pausa para um solo de baixo.

__Meu coração é uma coleção de suturas.

sábado, junho 03, 2006

músicas tristes...

Estou ouvindo músicas tristes. A única coisa que me resta é ouvir essas músicas.

Ouço essas músicas por que ela tem olhos castanhos. Olhos de decepcionada. Tão sérios. Ouviram meus leitores? Ela tem olhos castanhos, e nunca solta os cabelos. Sempre pedi que os deixasse soltos, mas nunca faz isso. Percebem? Tenho um medo agora de que ela se desencante. Que meus poucos encantos não afetem mais seus olhos. Hoje é dia de fazer perguntas como, por que eu estou sem ela?
Hoje é dia de se fazer muitas coisas, mas vou apenas me perguntar isso “por que estou sem ela?”... Tenho coisas grandes pra fazer, mas a maior dessas coisas é me perguntar “por que estou sem ela?” Quem sabe proclamar uma revolução ou viajar a uma ilha no Pacífico, escalar o Everest... Não... O que preciso hoje realmente é poder responder essa pergunta.
Também não! Não é isso o que eu preciso. O que eu quero é encontrar alguém pra culpar. Mas quem?...
Você! Sim você é o culpado. Pombas! Como não vi isso antes? Você mesmo que está lendo isso agora! Não fuja das suas responsabilidades e nunca mais faça isso. Entendeu!?
Puxa...
Esqueça. Você também não é culpado. Há culpado? Deve ser eu mesmo, de alguma maneira o culpado. Mas o que sei é que estou ouvindo essas músicas tristes e que ela tem olhos castanhos. E que ela fica tão linda de cabelos soltos.

domingo, maio 21, 2006

A morte de Ilenidlavski!


Meia noite e Bertile vestia seu casaco de peles. Meia noite e um e Pam punha um revólver sob a meia-calça. Ilenidlavski colocou seu melhor colete à prova de balas sob o smoking alemão com o garbo e a elegância que só um lorde casaquistaniano teria.
Na festa tudo corre bem, mas não para nosso gângser em questão... os garçons não são garçons, foram contratados pelas criminosas acima descritas. Estão armados e as bandejas são armas disfgarçadas! Todos os convidados, sabem do futuro certo de Ilenid. Todos mancomunados em direção de um só fim. O chefe de polícia, a cúpula da M.C., Stiepán, o advogado que disfarçado veio conferir com os própios olhos o fim de seu maior rival. Não sabe Stiepán que sua morte está sendo traçada também. Mas e agroa o que será de Ilenid? Cercado, acossado sem mesmo saber... o que será de Ilenid?
Bertile o atrai a um canto, lá está Pam, a charmosa chefe das Lótus letais, eis q ele está encurralado agora. Não sabe, mas está encurralado! O perfume de ambas o inebria, entontecido tal qual uma abelha ante uma flor carnívora ele dá mais um passo e outro e outro seguindo nossas caras femme-fatales. Num quarto escuro ouve-se um tiro, dois tiros... trinta e dois tiros.
Ilenidlavski é morto agora. Um filete de sangue corre por baixo da porta. O que acontecerá então? Bertile e Pam estão no comando da maior rival da Sociedade, e comandam a distribuição de H.E.C. na capital nossa querida e hipócrita Curitiba. Quem defenderá Stiepán? Quem defenderá Naka? Zancanarius sobreviverá? O macabro Leonard nem suspeita que seria ele o próximo e terá seu destino conmtado nesse mesmo canal, nesse mesmo horário.

sábado, maio 13, 2006

A "preciosidade"!


A Sociedade de férias. Caribe, Cancún, Bolívia e Casaquistão. Férias longas que se encerraram numa sexta-feira 13 enquanto Stiepán, o Advogado, retornou ao covil central e encontrou os papéis revirados. O cofre aberto, porém intocado. Não queriam dinheiro, mas o que queriam então? Stiepán correu até um outro cofre mais secreto sob a estátua nua de Hebe Camargo que dava uns ares non senses à sala. Cofre aberto e lá estava a ”preciosidade” ainda intocada. Mas quem poderia ter encontrado o covil central da horda de Stiepán.
__Alô! Lampkowski Naka?
__Não!... Você deve me chamar de “Fofinho-rosa” pôrra... é o código, caráleo!
__Desculpe! Fofinho-rosa... Mas... arrombaram o QG. Estamos vulneráveis, não roubaram nada, deve ter sido aquele porco do Ilenidlavski que queria a “preciosidade”.
__Minha Santa Margarida! Só o Ilenid realmente passaria por todas as armadilhas e guardas armados que cercam o QG. P@#$%¨& (xingamentos censurados). Temos de nos certificar de que a preciosidade estará a salvo! Não pode haver mais falhas!
__OK, Fofinho-rosa! Não falharemos...
A cúpula da Sociedade não sabia, mas Bertile mancomunada à srta Pâmela-femme-fatale foram as autoras da fatídica invasão do QG subterrâneo sob o Café Paris. Ilenid nem sabia, mas elas armavam um golpe de estado e iriam unificar as coroas das duas organizações, Máfia Casaquistaniana e Sociedade sob as mãos impiedosas de ambas. E para isso necessitavam de descobrir o que era a “preciosidade” já que era ela o grande motivo de discórdia entre as gangues rivais e roubá-la e destruí-la. Para assim vulneravilizar os dois lados e pô-los em choque e atacá-los pela retaguarda com punhais finos.
Então agora Pam e Bertile colocam suas luvas lascivas sobre as mãos leves e maquiam-se para a festa em que Ilenidlavski será assassinado... Quem poderá nos defender agora?!

domingo, maio 07, 2006


eu leio abstratamente a linguagem das folhas que caem

e te consagro com um nome que é dito em suspiro de manhãs de ressaca

__na varanda crescem tulipas e eu bendigo seus orgasmos de noites escuras,

nas noites de verões que descem pra afagar meninas insones

que criam repúblicas aprazíveis de stripers e traficantes estrangeiros!...__

exércitos invadem a nação dos poetas modernistas com fardas atônitas

e eu tenho a noção verdadeira da realidade como impressão risível

do que não é nem pode ser sério e factível

domingo, abril 23, 2006


O café estava com um doce bom e prenunciava boas novas. Coisas que acontecem sem a gente perceber: a moça na entrada da faculdade o paquerava, mas só a viu quando ela já saía.

“E por que não nessa altura do campeonato da vida não me dar o direito de uma loucurazinha? Houve dias em que me perguntava as causas dos erros da vida para com este que vos fala... Por agora me preocupo em não me preocupar. Quem me dera ser sem apegos a músicas e fotos na memória, olhos claros e versos de bobo-da-côrte...”

Traçou mapas na mente, descarregou um revólver na letargia e deixou-se a si mesmo falando sozinho enquanto explicava os porquês de ser infeliz... um dia quem sabe voltará com novas boas-novas e um vinho nada camusiano embaixo do braço: evoé!... easily... e-vo--é...

quinta-feira, abril 06, 2006

A incrível noite do Helloween!

Quem poderia suspeitar? Helloween era a banda alemã de metal melódico mais dependente em heideggeraína que já visitou esses cantos subtropicais quase temperados do planeta!... Um pouco antes do show numa esquina escura, porém iluminada, de Ctba Stiepánovitch Lemonovski Cruz deixava seu carro sofrer de inanição de gasolina. Um mentecapto sujo realmente! No qual nunca houve neurônios na mente, senão coliformes fecais. Quem empurraria o carro numa avenida daquelas senão tivesse a companhia do garboso Valdinéli? Quem empurraria o carro naquela noite assim tão escura se não tivesse a companhia da charmosa e elegante Deborah? Certamente não seria Stiepán... no porta-malas do carro muita heideggeraína e muita falta de noção na cabeça de Stiepán. Deborah era uma informante da máfia berlinense que é a produtora exclusiva de heideggeraína para o mundo. Viera ao Brasil para se imiscuir aos expúrios integrantes da Sociedade para obter dados de como estavam os negócios nessas terras em tudo dá ao deus-dará. Mas Ilenidlavski soubera disso e disfarçara-se de Valdinéli naquela noite tenebrosa. Disfarce perfeito, ninguém diria que por trás daquele rapaz deveras simpático e gentlemaníaco havia um sanguinário criminoso.
No show tudo correu bem, poucos assassinatos. Ilenidlavski se contera, Stiepán também, mas, ó deus!, Deborah não! Socos, pontapés, tiros e navalhadas a cada elogio ao ouvido. Quando metade da platéia já havia apanhado Deborah começou a se conter.
Stiepán: __ Será que ela precisa de ajuda?
Valdinéli, ou Ilenidlavski: __ Perto dela nós é que precisamos?
Estava tudo bem, mas Ilenidlavski já embasbacara-se pela jovem berlinense. O que seria da nossa história se não fosse o porém de que Deborah ignorara os olhares de Ilenidlavski, com olhos de Valdinéli, pela possiblidade de falar com a banda ao fim do show? Nada. Mas o que aconteceu daí em diante foi uma cena jamais vista. Ilenidlavski chorando copiosas lágrimas trancado em um Peugeot 206 sob os auspícios gargalhantes de Stiepán. Essa não é uma história de aventuras como as outras sobre a Sociedade, meus amigos. Essa é uma história triste como pôr-de-sol triste. Nada mais restava aos nossos protagonistas senão o Largo da Ordem. Um melancólico, outro dando gargalhadas a perder de vista e uma terceira frustrada sem ter falado com a banda. Meus amigos aqui a história acaba. A não ser pela bandeira do Brasil suja de mijo. A não ser pelo Arlindo contando a sua história de vida. A não ser pela incrível petulância da noite que insistia em transformar-se em dia. A não ser pela memória que me falha e não me diz nada do que aconteceu depois. E voltaram todos para a casa cantarolando: “Fifteen men in the Dead Man’s Chest! Hohoho... and a bottle of rum”...

domingo, março 05, 2006

ontologia descritiva de si

sou o som das buzinas, a negação das buzinas no silêncio por trás do tumulto
a metropóle que nasce tão morta na marquise
a complacência dos psicopatas
a psicopatia delicada de analisar a alma humana
a demência bem velada de qualificar e quantificar em classes as personalidades
sou o que não pude ser, sou um além de si muito aquém de si mesmo
um copo que transborda ondas e mar tempestuoso
um cálice de vinho fino despejado ao ralo da pia
o despejo do vinho fino ao ralo da pia
o ralo da pia em que despejam o vinho fino

mas não o vinho fino despejado ao ralo da pia
o que não sou, mas me pretendo a ser
o que devo ser sem que eu seja
o vir-a-ser condenado a não-ser
o não-ser que é ilógico na sua única lógica
a recusa da lógica na pretensão de raciocinar
o raciocínio que sente antes de pensar
o grito num túnel soterrado
a melodia além da orquestra que ressoa
nos ouvidos do mendigo em frente ao teatro


sou o que fui enquanto queria ser e passei a vida querendo...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

24/02/2005

...Duas noites de insônia.

...Minha razão está calada, apenas minha mente pulsa. Louca, como um grito num túnel escuro! A insônia é a minha maneira de prolongar a noite, multiplicá-la por si mesmo, até que o dia espoca nos olhos cansados...

domingo, fevereiro 12, 2006

quem tem um coração que cuide dele

quem tem um coração que cuide dele (isso mesmo meus amigos, meus pobres amigos. se é que posso lhes chamar de amigos, me ignorem se for o caso)!

houve um tempo em que achei que o coração devia ficar na mente, lugar seguro para ser policiado e que se impedisse mais romantismos bobos. esse tempo passou, hoje o coração deve ser é estirpado. isso mesmo sejamos todos cruéis com os sentimentos alheios, façamos de nossos companheiros de humanidade apenas meios para atingirmos nossas metas. fim em si mesmo? kant era um romântico, deixe esse kantismo pra lá...

os cardiologistas já me desenganaram: "peça de museu esse seu coração meu rapaz, tecnologia do séc XVIII. a receita é ler Werther!". cardiologistas, sempre querendo ver seus pacientes deitados numa cama de UTI ao som de um apito longo e intermitente. "menos um!..." sejamos cruéis primeiro com os cardiologistas, depois com os anjos da guarda. maníacos estúpidos, bêbados todos! onde eles estavam qdo eu fiz as minhas cagadas do coração? nalgum boteco celeste, bebendo e cantando a garçonete que devia ser uma querubina safada também. antes pensava que meu anjo da guarda tivesse se suicidado, imaginando-se um fracassado comigo. tinha pena dele. depois tive certeza:'foi o Murphy que matou meu pobre anjo da guarda". mas não, bêbado safado, displicente! não-cumpridor de seus deveres.

ajudar velhinhas a atravessar a rua?... desculpem-me velhinhas, tenho mais o que fazer, ocupado demais em atravessar-me a mim mesmo. meu coração já secou, as amadas furtivas, as amadas de flerte, as eternas efêmeras que nunca ficam, essas não cabem mais por aqui nessa terra de miocárdios, pericárdios, válvulas e tumores de amores passados. quem tem um coração que cuide dele. o meu como não tem solução (não entrego à ciência, sou pudico e não creio nessa religião politeísta do século XX) vai ser aposentado, trabalhar sem obter resultados não adianta, melhor parar e descansar. colocar o pobre numa cadeira de balanço, sob um xale xadrez, com uma vista bonita e sobreviver nas ruas infinitas.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

esses rapazes de hoje em dia, essa corja de rapazes que só namoram e nada fazem. deviam ir todos ao quartel, serem disciplinados, por farda e pegar em fuzil, defender a pátria! ah no meu tempo! esses jovens que ficam pelos cantos e nas ruas e ficam escrevendo em blogs como se fosse algo de proveitoso a uma vida cívica e como pode se tornar um bom ai-de-família um rapaz assim? ah nesses dias pós-modernos esses rapaazes pós-modernos, essas moças pós-modernas! na minha época não era assim! a moral amoral dessa juventude é uma quimera, o que diria um Rui Barbosa disso? fica a pergunta o que diria o Rui Barbosa disso?! meu deus, Deus meu! ah no meu tempo!... já poríamos isso na linha! moça vai pra cozinha ser prendada, rapaz vai estudar e ser engenheiro... música? o hino nacional tá bom, e os cânticos litúrgicos no máximo. meu deus! deus meu! e o que sobra disso é a pergunta: o que raios diria Rui Barbosa disso!?

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

facticidade e contingência


Eu queria afundar as embarcações, ser o rochedo em que se chocam, eu queria saciar os pesadelos levando-os ao dia claro e ao espaço comum do dia.

sábado, janeiro 21, 2006

Dúvidas éticas numa sexta-feira à noite

__Tudo bem, sexta-feira à noite. O que vamos fazer? Bem se você quiser há um puteiro no fim da rua. Mas eu não vou colocar grana numa fodida. Uma noite com uma mulher valeria garrafas e garrafas de cerveja? Valeria? Você pode dizer depende da cerveja, é verdade. Mas e um bom litro de whisky, valeria? Tá, whisky dá dor de cabeça, eu sei. Mulher no outro dia some. É eu sei, mas e umas garrafas de rum, litros de caipirinha, tubões e tubões, compartilhar com meus amigos a grande celebração da vida? Valeria? É, é verdade, amigos às vezes são falsos, e eu sempre me fodo com eles. E ficar bêbado na rua dá sempre em alguma merda. Eu sei. Mas eu venderia todo esse prazer social por prazer com uma pessoa só? Tá certo é uma “senhora” de uma pessoa! E não é qualquer prazer, enfim... Mas meus hormônios valem, mais então!? Ora bolas... eu ainda estou no controle, certo? Eu mando em meus hormônios! Não uma mulher com aqueles corpetes, minissaias e coxas ao léu, decotes furiosos sobre minha calma, andarzinho lascivo, curvas e curvas, olhinho piscando de lado, meio assim, charmosinho... e... e... aquelas voluptuosidades safadas, e a imaginação voando, voando, e a expectativa do caos em flor da explosão de nossos corpos... Ai! Ai! Nem me fale! Deixe-me ver quanta grana tenho... Ai... vamos pro puteiro então, você me convenceu.
__Ué... mas eu nem falei nada!

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Declaração de veemência e suavidade

"...como um fio de algodão
acalmando um furacão."M.I.

Não há vida fora de mim
Não há morte fora da mim
Eterna dialética de existir-nãoexistir

Quero uma amante louca
De mil tornados sobre si
Eu quero muito mais que viver
Eu quero girar como girassóis

Mas se tiver um bom descanso
Ouvindo as sinfonias das chuvinhas safadas
Destruindo a monotonia com o silêncio sonoro das suas gotas

Mas os tanques voltarão
Quando voltarem estarei preparado para a batalha!
Que venham AK’s e .40’s!

Farei qualquer dia
Uma ode aos b52’s,
Uma elegia às baterias antiaéreas,
Uma saudação aos mariners,
Mandarei um beijo cortês aos cavaleiros da morte,
E seus engenhos maravilhosos de destruição em massa,
Cartinhas carinhosas aos generais,
Lustrarei as estrelinhas deles com sangue dos inocentes,
As botas com a saliva que já escorre
das bocarras insaciáveis deles.

mas quero girar e girar agora
como um girassol em fúria
como um planeta em órbita
ou em rota de colisão

Eu quero encontrar as supernovas
Eu quero um bigbang pra mim agora

Eu quero ver a vida por aí
Em qualquer instante jogado
Mas não há vida fora de mim
Não há morte fora da mim
Eterna dialética de existir-nãoexistir

sexta-feira, janeiro 13, 2006

(...)

Quem o visse andando pelas ruas, vivendo anonimamente, não saberia que ele havia nascido para se foder. Coitado, diriam uns se o soubessem. Mas a cena é tragicômica demais para sentir pena. Algo entre Chaplin e Lupicínio Rodrigues. O destino era um safado. Um safado sarcástico que gostava de lhe colocar cascas de banana sob os pés. O cupido um zarolho. Ah! era um zarolho o cupido, flechando sempre o coração certo na hora errada. Mas é que Murphy havia matado a tiros o anjo-da-guarda do nosso protagonsista.

“Puxa vida!... Que coisa!...”, exclama a platéia sem saber que o espetáculo já acabara sem aviso de “the end”.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

discussão sobre a falta de assunto em blog...

"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
acho que vou me suicidar!
Estevão diz:
boa sorte...
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
eh a terceira vez que decido isso hj.
Estevão diz:
se for bom, volte e me conte...
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
mas o ônibus freiou, a faca não tinha corte e o gás acabou no botijão.
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
aí tive de me contentar com a existência mesmo.
Estevão diz:
isso que eu chamo de estar na facticidade da existência é não ter como se livrar disso...
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
mas jah como diria "Chopp in hour":
Estevão diz:
nossa...
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
ich drinken yesen, ich vivenden, alt auf drink ist, morrenden ist!
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
eu bebo sim, estou vivvendo, tem gente que não bebe eestah morrendo!
"mato-me setenta vezes por minuto a cada bater do coração"; ILENIDLAVSKI, Martin. diz:
um brinde ao cachacismo!

(...)

Então ambos os interlocutores despediram-se, tomaram sua dose de heidegerraína e dormiram o sono próprio aos injustos.

domingo, janeiro 01, 2006

...em junho de 2005

Ah maldita! o seu sexo!... ah... o seu sexo é um desespero imenso sobre a calma da minha existência. Do meu canto penumbroso e quieto jogado contra o precipício das suas curvas. Por que me olhar com tantos entorpecimentos? Você me olha, eu sei que me olha. Não sabe que sou humano, bem humano? É isso o que quer... um homem para crucificar de olhares e desse andar demoníacamente santo! Se quer tens eu aqui, cativo! Nas celas desejosas do meu corpo tens um prisioneiro. Eu me embrenharia no sonho atordoante dos seus cabelos como aventureiro que se perde pelo prazer de perder-se... eu me desataria em choro e me retribuiria à morte, eu me deixaria morrer... de santas loucuras sob a sombra da nave do templo do seu corpo. Nada deteria minha mão cariciosa e sedenta, nada romperia a batalha de nossos corpos ou quebraria meu secreto juramento de paz e tormenta, mas destruiria meu altar das divindades morais, sacrificaria a existência pela evocação de seu toque, pacificaria os exércitos... ah como pacificaria, e criaria muitas guerras a mais, para pacificá-las de calma extrema nas noites em que te encontrasse. Mas... ah divindades!

Mas não se deve macular seu riso... não se toca a sua sacralidade louca... não se bebe das pétalas o mel do seu charme... não se concebe da sua pele surrupiar um arrepio... sacrilégio, ah que sacrilégio seria! Um santo sacrilégio de banhar seu corpo saciado numa madrugada, no quase já da manhã. Mais nada... Que o bálsamo de gritar me conceda paz. Nada há mais que faça sentido, a não ser não encontrar sentido em nada. Que o seu nome não seja jamais pronunciado por outras vozes, que nunca saibam do incêndio celestial do seu sexo, que não tenham jamais o seu toque como eu teria se pelos anjos da guarda eu não fosse um danado jogado à existência como uma estôpa a um canto da despensa!

Ah... que a noite seja leve!