domingo, abril 13, 2008

trecho... Ilenidlavski, Martin; Obras Completas; Vol XIII

Não sabia porque o espancava, mas espancá-lo fez sentir-se bem. Nunca havia se sentido assim e sua fúria não era uma raiva, só um impulso sem controle. O gemido do homem era arrastado e contido, certamente não gemia assim para fazer menos barulho, mas porque seu pulmão não tinha o vigor para o grito de fúria assim como para o gemido de desespero ou dor. Era um ruído bom para Flávio Falho em pé em frente a sua vítima, como um mau ator que também é espectador enquanto atua, limpando o sangue das articulações de seus dedos num dos cantos do lençol branco-amarelado. Não havia mais sol, ainda assim retirou do bolso mais externo de sua mochila uns óculos escuros blindados por um espelho esverdeado parecidos com aqueles que os policiais de filmes americanos dos anos 70 usavam. Como o velho esquizofrênico estava caído mais ao lado da porta pôde abri-la sem grande dificuldade e no corredor estreito e curto um cheiro mofado se espalhava pelo ar mal iluminado.

O velho ficou caído mais alguns minutos na mesma posição. Algum tempo depois conseguiu levar a mão à boca para limpar-lhe o sangue. A janela estava ainda aberta e entrava um pouco de brisa quente. Ainda com bastante tontura endireitou-se sentado no chão ao lado da porta. Ignorando o que havia lhe acontecido voltou a falar que... que... enquanto não vê-la, ainda posso... enquanto... quando... __soluçando um pouco quis gritar, mas não conseguiu só resmungou mais alto__ quando a dor libertará... quando a dor... __e novamente voltando a um tom mais calmo e cansado__ o mundo? Quando... A dor, ela pode... a dor... enquanto não vê-la, entende...