terça-feira, maio 24, 2005

O cosmos dissolvido

(Plágio do Drummond)

Como andava na poeira de uma estrada
dos campos de berço e juventude
e as pedras da estrada não dificultassem meu caminho
e ainda indicavam sua seqüência,
e pinheiros e eucaliptos frondassem à beira delas,
desiludidas de qualquer entendimento
__antes que entregues ao sono desdenhoso__
e a máquina do mundo não desse
qualquer notícia de si,
o cosmos dissolveu-se sem lamento ou murmúrio,
sem aviso de espetáculo ou gritos na planície calma,
quedando-se ignóbil ao lado do dia
e juntando ao sonho seu correspondente pesadelo
e rompendo com o sonho a sua ponte com o tangível
e dando ao sonho seu quê de absurdo
como um amanhecer à meia-noite
se estendendo sobre os seres
deste ou qualquer outro ácaro cósmico habitado
por pedras e intelectuais pensativos,
entregues à gênese ontológica das coisas
e aos ínfimos críveis objetos
ou os espectros inteligíveis do ser
corroídos e perpetrados nas mundanas fibras
da condição humana, refletidas no olhar dos mendigos silentes
na marquise de seus chapéus.
(...)
Enquanto isso as estrelas observavam cegas,
por trás do céu azul, os movimentos sem cálculo
no teatro dos homens de gravata.