segunda-feira, junho 13, 2005

Gênesis e o mito de como o universo se fez universo.

No início era o nada. Então do nada tudo se fez. Ilógico? No início nem a lógica havia. Tudo aconteceu assim numa tarde de verão antes mesmo que houvessem tardes e verões, ou mesmo madrugadas e invernos que os contradissessem:

Houve a vontade suprema que é eterna e atemporal, não tem corpo nem mundaneidade, nenhum erro ou imperfeição, conhece e é conhecida antes mesmo que se pense ou a admita. E esta quis que se fizesse o espaço e o tempo, e assim se fez. E viu que era bom. Então criou a matéria e a metafísica, e separou-a em base fenomênica perceptível e coisa-em-si "real para si, mas não conhecida por nós"(KANT, Immanuel, in:KrV, prefácio à segunda edição). Então houve dúvida... que chato a matéria inerte dispersa no universo como uma colisão de átomos loucos e sem destino! Foi criada, então, a forma e com ela os planetas e com os planetas as luas, puxa-sacos de planetas, e soltos no espaço os asteróides para chocarem com os planetas e não deixarem assim que vida celeste caia na pasmaceira. Sobre alguns planetas foi distribuído ar e água, ao ar o direito de queimar-se em fogo e à água o direito de apagar o fogo. Mas houve incerteza... Havia o espaço e a água, os planetas e as coisas, as formas e o fogo, mas do fogo nada resultava a não ser uma violência de calor sob a pele das coisas. Então a vontade suprema criou Thomas Eddison e este disse: "Fiat lux!", e fez-se a luz num filamento de cobre, e depois disso a alegria brotou na primeira aurora dos planetas e a solidão na primeira noite dos planetas. E por todo o sempre seria assim. Mas o universo com forma e luz, cor e água, pedras e coisas era ainda incompleto! Então foi criado Diógenes e dele retirada uma costela para que se criasse o homem e outra para que se criasse a mulher. A estes foi dada a razão, mas não a capacidade de controlá-la. E foram soltos, homem e mulher, no paraíso. O paraíso era chato como descascar laranja ou tomar chuva fria. O homem quis superar à vontade suprema. E criou a família, da família os os genos, dos genos as pólis, das pólis as cidades, das cidades as metrópoles, das metrópoles o caos. Criou o homem códigos de boa conduta e prisões para os que não a seguisse, guerras para conseguir poder e tréguas para concedê-lo, BMW's e fuscas para se chocarem nas avenidadas, individualismo e factualidade, luxúria e conservadorismo, capitalismos e comunismos, e mais códigos e regras, e mais soldados e canhões. E houve fumaça sobre a cabeça dos homens e buzinas no trânsito lotado, e raios na madrugada densa, tiros na periferia escura, estradas levando ao sertão, sertanejos chegando à cidade. E houve mais caos, e houve mais dúvida. Que fazer agora, nessa angústia de avenida entupida? Por onde fugir aos riachos e campinas, como escapar da dor e da solidão? O homem pensou em sexo que o divertisse, em psicotrópicos que o livrasse da realidade, e música que acalmasse seu desejo de fuga. Dessa vontade humana nasceu o rock, do rock fez-se Ramones e de Ramones o punk como alheamento à dura condição humana. A vontade suprema pensou no verbo e o verbo se fez, do verbo brotaram palavras, das palavras brotou Homero, e de Homero James Joyce. Então as coisas, recém-criadas, fizeram sentido e os homens criaram a Filosofia para compreendê-lo, mas perderam-se na obscurescência do caos e do descontrole da sua razão como um cão sem dono, ou uma abelha sem colméia. Então para dar ordem à vida humana, e levar-lhe luz aos olhos criou-se Nietzsche e o sentido pairou pelo ar durante três mil anos até recair sobre as mentes humanas.

Muitos dias e muitas noites já haviam se passado então, e a vontade divina adormeceu sobre uma nuvem qualquer e sonhou com os dias de sua infância antes do tempo e do espaço enquanto tudo ainda era nada.