quinta-feira, novembro 03, 2005

da alma...


Proclamo as revoluções da alma. O corpo não tem significação por si só; máquina inútil, senão somente lúdica. Máquina defeituosa de dores e desconfortos. Líquidos sujos correndo nas veias. O homem almeja não ter corpo, superar-se a si e às dores, e ter o ar e ter a brisa por amigos. Limitado e humano quer aproximar-se de Deus, onipresente, onipotente...

Mas, Deus há? O que há além do homem? Indiferença, terror, vazio... o que não há, o nada? Se há Deus devo estender o melhor tapete e limpar o oratório já tão velho. Mas se não há, existe só o homem e o nada a bater-lhe à porta, como uma liberdade imensa e angustiante, como quem está sob a chuva e não tem guarda-chuvas. O que se deve então, além de esperar as horas fatais em que se descobre os mistérios da vida? O que se deve? Ater-se ao já? Ao agora que não se acaba, numa sucessão de agoras inacabáveis?

Proclamo as revoluções da alma. Que já não se tem a si de tão extensa. E derramo ao leito dos dias e das horas escuras em que se questiona, meu peito desgovernado e humano em forma de frases extremas. E me estendo na indissolúvel rede de armar em que está a existência e deflagro uma grande noite chuvosa para dormir.

2 comentários:

Anônimo disse...

Agora imagine ler isso ouvindo cânticos muçulmanos... Pois é, foi o que aconteceu!

É por isso que hoje eu como amendoim com pasta de dente.

Anônimo disse...

O que posso dizer eu de seus dizeres? Não posso entrar em considerações acerca da feição deles, "pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, - seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera".