domingo, março 05, 2006

ontologia descritiva de si

sou o som das buzinas, a negação das buzinas no silêncio por trás do tumulto
a metropóle que nasce tão morta na marquise
a complacência dos psicopatas
a psicopatia delicada de analisar a alma humana
a demência bem velada de qualificar e quantificar em classes as personalidades
sou o que não pude ser, sou um além de si muito aquém de si mesmo
um copo que transborda ondas e mar tempestuoso
um cálice de vinho fino despejado ao ralo da pia
o despejo do vinho fino ao ralo da pia
o ralo da pia em que despejam o vinho fino

mas não o vinho fino despejado ao ralo da pia
o que não sou, mas me pretendo a ser
o que devo ser sem que eu seja
o vir-a-ser condenado a não-ser
o não-ser que é ilógico na sua única lógica
a recusa da lógica na pretensão de raciocinar
o raciocínio que sente antes de pensar
o grito num túnel soterrado
a melodia além da orquestra que ressoa
nos ouvidos do mendigo em frente ao teatro


sou o que fui enquanto queria ser e passei a vida querendo...

4 comentários:

Anônimo disse...

É por isso que eu acho que você não vale nada!

PR Iuris disse...

Continue os contos, fale da saga da sociedade!

Assim, temos mais de vc!

Natália Bellos disse...

que você não é vinho eu percebi... vc é mais chegado na vodka. (ha ha ha - piada cretina).

e não desmereça o Coração Nativo (não Chão Nativo... tsc tsc tsc) pq eu ouvi boatos de q vc tentou comprar o cd deles com autógrafo e td.

bjo

Anônimo disse...

Eu tentei....
Vc ouviu o trrrriiimmmmm, mas não ouviu minha voz....

Saudades,

Saudades de ler vc!

Bjinhos, os de sempre!