terça-feira, dezembro 25, 2007

Diálogos amorosos - Parte 1

No apartamento classe média o tapete e o abajur combinam com o lustre e a moldura dos quadros de gosto duvidoso na sala. A mulher interrompe a leitura da revista de moda feminina e olha para o marido. Saindo do quarto com duas malas com uma expressão corriqueira.

__Ué... pra onde você vai?
__Ah, vou morar com a Selminha.
__O quê!?
__Com a Selminha...
__Você tem uma amante?
__Amor... você é minha amante.
__Como é que é?
__Você amor!... Sou casado com a Selminha...
__Seu filho-da-puta!
__Eu!? Mas porquê?
__Você me conta assim... que tem uma amante?!
__Já disse! Ela é minha esposa, você é minha amante.
__Seu desgraçado!
__Não diga isso, paixão! Em nossa relação não pode haver segredos!...
__E eu? E nossos filhos?
__Ué... o que tem nossa relação... nossos filhos?
__Como o que tem seu desgraçado?! Você abandona eles assim? E quanto a mim...
__Bem... Eu te amo! Mas nós não temos filhos.
__Como não?!!!
__Amor eu sei que você teve um caso com o Adalto.
__O quê!
__Nem esquente. Eu gosto das crianças mesmo assim. Olhá você tá exagerando. Eu só vou ficar uma semana lá e...
__E o quê?
__E a Selminha é tão chata às vezes...
__Chata mas você vai passar uma semana lá...
__Pois é.
__Pois é o quê?!
__Pois é...
__Desgraçado! Filho da puta!!!!!!!

Os carros que ouviam o diálogo quietos obedeceram ao sinal do semáforo e novamente saíram em uma procissão monótona pelo asfalto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vestes brancas e cheiro de formol. Isso é o casameto e o resto da vida.